terça-feira, 31 de maio de 2011

O primeiro.




Me lembro do meu primeiro amor, daquelas tardes um pouco infantis, entre beijos e brincadeiras bestas, sem nenhuma certeza de nada, exceto do amor. Eu me lembro dos olhos dela, que de tão transparentes engoliam os meus, como um lago raso onde é possível enxergar o fundo. Eu me lembro menina. De você a brincar sobre a cor dos meus olhos, sempre inventando cores engraçadas sobre eles, de acordo como a luz batia, eles eram roxos, vermelhos, violetas e mais qualquer cor que sua áurea tivesse, que refletiam em mim. Crianças tem áureas coloridas, vivas, intensas.
Era primeiro, era diferente, não tinha com o que comparar, não tinha o que saber, estávamos descobrindo, assim, virgens de coração. Sem mágoas passadas, sem o que contestar, a não ser fossem aquelas briguinhas bobas. Sabe aquelas que terminavam aos beijos e risos, ou com aquelas caras de: “- Eu não falo mais com você”. Seguida por: “- Eu não vivo sem você.”
Tipico de primeiro amor, é claro que vivemos sem, e mesmo que parta o peito, sabemos nos virar sozinhos, sabemos ser encantadores e rudes, sabemos e temos a chance do amor dia após dia.
E então eu aprendi a viver sem aquele amor, vieram outros, correspondidos de plano, perdidos, encontrados, amores, sempre amores.
Vês este brilho estranho nos meus olhos? Vês? É amor. Amor guardado, com necessidade de ser entregue. Amor que mata aos poucos, mata assim como a sede e a fome. É amor.
Esses dias me peguei pensando nos meus amores, não em cada um deles particularmente, mas em todos eles. Cheguei a conclusão de que meus poucos amores me sugaram tão pouco, talvez eu tenha me entregado pouco, talvez eu tenha me entregado de mais tardiamente. Talvez eu goste de guardar amor na reserva. Mas pra que?
Nunca disse a alguém que tinha a perfeição em minhas mãos, nunca disse! Sempre deixei clara a minha dificuldade de sentir, sempre me mostrei assim como sou. Se iludi alguém foi por querer, meus verdadeiros amores mais me iludiram que foram iludidos, porque eu resisti em todos eles, até onde fui capaz.
Quem dera ter no peito aquele coração do primeiro amor, aquele que se desesperava com o atraso de dois minutos, aquele que fazia amor com nenhum pingo de experiência, inseguro, primitivo, aprendendo e ensinando ao mesmo tempo. Amava, somente amava.
Eu olho para os olhos da menina que passa, com andar suave, a me olhar nos olhos. Atravessa meu caminho e me convida a seguir o seu. Juro que adoraria dar meu coração a ela, assim como ela me deu o seu. Mas não sei se cuidaria bem dele, eu tenho marcas, cicatrizes, ela sabe disso e se aventura. Eu tenho medo, medo de machucar a ela assim como me machuquei.
Não que eu tenha medo de me machucar, eu não tenho como me machucar agora, não há como achar parte inteira parar ser ferida.
Mas mesmo assim ela passa, para, e me convida. Eu não sei se deixo me levar pelos seus encantos ou se sinto medo de me tornar uma grande dor. Eu seria uma grande dor.
Mais tarde, meu coração inteiro encontrará uma nova paixão, um novo amor, alguém que cuide de mim, mas principalmente, alguém pra eu cuidar. Que me deixe cuidar.

3 comentários:

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  2. a cada dia que passa, e quanto mais eu leio as coisas que você escreve, mais eu fico impressionada e admirada... sério! Poucas pessoas conseguem me tocar com o que escrevem. Me pergunto as vezes se você escreve assim com tanto sentimento por causa do que já passou, ou se é algo que sempre esteve com você... De qualquer forma, queria que você soubesse que eu tenho muuito orgulho de você, e sei que pessoas como você Carol, são extremamente difíceis de serem encontradas. Eu vou continuar aqui para o que você precisar.

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  3. Ahhhh, que lindo o textooo... alias, quando vc n escreve coisas lindas né?! Acho que minha aurea deve ser violeta então! hAShuasHuhsaUhuas... pq grande parte do tempo eles eram violeta! (Y)
    As lembranças são lindas... acabouuu é verdade, mas o que importa é que temos um passado lindo!
    E "sabemos e temos a chance do amor dia após dia." Afinal, o importante é ser feliz!

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