domingo, 2 de novembro de 2025

Maio (Poema número 2)

Havia algo diferente naquele dia tão normal, eu pensei que talvez fosse só o frio que insistia em invadir um dia de maio, ou talvez a minha insistência em ver normalidade em dias frenéticos. E aquele era mais um.

No fim do dia eu me embriaguei da presença de pessoas que talvez só quisessem também o acalento do fim de uma sexta-feira qualquer, era necessário interromper o caos do cotidiano. E assim foi.

O caminho para casa era destino certo, quando ela cruzou em frente aos meus olhos e falou sobre mil coisas que me faziam parar, ela chamou a minha atenção no meio de uma tempestade. E eu parei para ouvir. Ela poderia ter sido alguém de um assunto qualquer, fim de noite, embriaguez. Eu costumo falar sobre profundidades nesses ambientes, mas ela era muito mais profunda que isso, ela era um oceano inteiro e então mergulhei.

O encontro das nossas almas aconteceu de uma forma tão repentina que eu poderia dar os louros ao acaso, mas ela é muito para tamanha banalidade. Os dias vieram e a cada dia eu descobria o quanto ela era tão igual a mim, e tão diferente. Uma cartomante certa feita me contou o óbvio e eu fingi surpresa, na verdade, eu já sabia.

Quantas complexidades podem caber na cabeça e no coração de uma mulher? Ela veio me responder todas essas perguntas de uma forma tão clara, que eu, fiel escrevedora de palavras urgentes parei para observar. Observar o quando aquela urgência era dita por ela, pausadamente, como quem elabora com minucias todas as camadas de intensidade que o universo pode me trazer. A dona da maior complexidade é clara nos dizeres e faz com que eles sejam auto explicativos. Pelo menos para mim.

Eu mergulhei nos olhos dela, como que em algum lugar desconhecido e encontrei tanto do que é familiar, o conforto de um lugar seguro vem com a intensidade da sede pela descoberta perene. Ela é encanto desde o primeiro olhar mas também é a vontade de viver o que é bonito, e eu posso jurar que ela consegue mesmo após os temporais arrancar de mim a visão da beleza em tudo.

É intrigante o que ela traz e a maneira de ser menina mulher o tempo todo. Às vezes andando tropega e tropeçando nos próprios sentimentos, como quem só veio ver o por do sol e acaba ficando para vê-lo nascer. Às vezes com a força de um vendaval, sabendo exatamente onde fica o chão que deseja pisar, como fazem as deusas, as sábias e as mulheres como ela (mesmo que essas definições pareçam um enorme pleonasmo).

Ela tem cheiro de paz, dia longo em meio as flores que ela mesma regou. Mas às vezes atravessa o dia, perdida em pensamentos desconsoantes que ela mesma criou. Ela é dona de si mesma, mesmo quando não acredita.

Não venha me dizer o mais do mesmo, meu amigo. Ela não tem nada a ver com as linhas que antes escrevemos, ela é todo o preludio, a escrita e as notas finais. E nem eu, escritora de palavras conclusivas seria capaz de concluí-la, ela está em constante construção e eu não teria essa prepotência.

Ontem eu caminhei por horas e horas tentando dar nome ao que ela causa em mim, e eu fui incapaz de concluir. Ela é sobre o que eu nunca vi, escrita em versos de uma canção bonita que nunca é iniciada em acordes menores, que não tem cadencias propositais, que é sempre tão natural quanto um dia de sol que acaba em tempestade, mas nunca em desastre.

Os olhos dela me trazem a imensidão de todas as coisas que eu ainda quero descobrir, ela mora dentro da minha mente e é capaz de concluir todos os meus pensamentos frenéticos, todos os meus ditos não ditos. Ela é tudo o que me interessa e mais um infinito de coisas que eu desconheço. Mas que eu quero conhecer.

Te escrevo essas palavras em um final de domingo tranquilo, sabendo que nem todos são. Mas que muito dessa paz foi trazida pelo amor, que eu sinto agora de peito quente. Eu, tão acostumada a cambalear e tropeçar no meu próprio coração tenho trazido ele no peito, cheio daquilo que eu antes desconhecia. As tuas palavras ecoam pela minha sala como um enorme mantra, e o teu cheiro, preso em mim me faz pensar bobagens, que eu quero compartilhar grudada na sua pele, em meios aos seus gemidos mais profundos. Eu te amo com a intensidade e o calor de um vulcão ao mesmo tempo em que quero te cuidar com a serenidade da brisa de uma manhã tranquila. Eu só preciso que você venha.

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