domingo, 4 de novembro de 2012

Dois.



Eu sou um poeta desses intensos, mulher! Às vezes dolorido demais! Talvez seja essa a minha sina, ser poeta, ser intenso, viver entre altos e baixos, nessa montanha russa de sentimentos. Enquanto sou eu mesmo, eu sustento meus sentimentos de forma sóbria, mas quando o poeta invade o meu corpo, afim de colocar pra fora tudo o que deseja escrever, me acorda de olhos marejados, um peito dolorido, às vezes comigo anda tudo bem, mas ele acorda padecendo de dores inventadas afim de me mostrar que embora habitemos o mesmo corpo nem sempre somos um só.
Vez em quando, quando o por do sol está lindo, ele vem me trazer um aperto para o peito, mesmo que tudo ande bem, mesmo que seja eu tão sereno, o poeta é livre demais, vivo demais, sofrível demais.
Mas sempre que acordo de coração tranquilo eu olho para o espelho, ainda despenteado, e olho nos olhos dele, olho com ar de quem pede piedade, com ar de quem diz: - Só por hoje eu gostaria que você me deixasse em paz, só por hoje eu gostaria de ter apenas os meus sentimentos no peito, já me cansei de lidar com os meus e os seus!
Nem sempre essa dor é minha, caro amigo, o problema é que eu acabo por sangrar duas vezes, quando eu sofro e quando ele sofre.
Hoje é um belo dia de primavera, e aquele coração que é meu está tranquilo, hoje é um belo dia pra sorrir. Mas outra vez o poeta acordou dolorido e não me deixou sair pra ver o sol se por.

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