segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cinco.


Eu só estava vendo o sol se por, com olhos de criança. Eu só estava vendo o sol se por!
Acendi um cigarro com ar de adulto, aqueles que sabem o que querem, me vi entre duas fases, brinquei por alguns minutos com os cadarços do tênis desamarrado, sorri um sorriso leve, olhei para os lados e vi todas aquelas cores que o céu exibia em um espetáculo fora do comum.
Amarrei o tênis de forma diferente, daquele jeito que aprendi quando criança, não satisfeito, perfeccionista desamarrei o outro pé e fiz com que ficassem iguais. Pronto! Voltei aos cinco anos de idade, quando ensinei a aquele coleguinha como fazer um nó nos cadarços e viajei no tempo.
Cabelos lisinhos, um pouquinho maior que as crianças da minha idade. É, eu já fui grande um dia!
Me lembrei da grandeza daquela criança, sem nenhuma dor no peito, aquela que só se preocupava com coisas bobas e chorava às vezes desesperada porque ralou o joelho brincando de pega.
Me voltei pra mim mesmo com um sorriso quase infantil, segurei minhas mãos e senti saudades de quando era grande.
Ah, me lembrei do poeta “ Que saudades eu tenho dos meus doze anos, que saudade ingrata.” Mas dessa vez era dos cinco, era das brincadeiras bobas e dos abraços quentes que acabavam por virar colo e tirar do chão. Quis voltar a aquele tempo e parar o tempo, quis, não pude.
Quando as certezas adultas invadem a sala, parece que toda aquela grandeza infantil se vai. Pedia a Deus pra voltar a ser criança por um instante, mesmo carregando nas costas aqueles meus vinte e poucos, mesmo tendo caminhado tanto, pedi pra progredir aos meus cinco anos.
Quanta verdade existe no coração daquela criança que me visitou enquanto o sol se punha, quanta verdade eu vi nos olhos dela! Eu me senti envergonhado por ser tão pequeno perto dela, mas toquei na ponta de seus dedos e pedi pra que voltasse pra dentro de mim. Ela, em um ato de generosidade resolveu ficar pra ver o sol se por comigo, habitou meu corpo, me fez sorrir nessa tarde de primavera.
Sorrimos juntos e no final pedi pra que me levasse pra casa, ela me carregou no braços e prometeu voltar, eu prometi esperar sempre que o sol fosse se por.

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