Estamos todos perplexos diante de nós mesmos, hoje estamos,
sem exceções, mesmo que assustados, mesmo que maravilhados, com medo ou deslumbrados com tudo o que acaba por mudar tanto as relações humanas
do mundo moderno.
Não me estranhe caro amigo, estou a dizer as mesmas coisas
sempre digo, nada de anormal. Só cotidiano, só o dia a dia.
Dia desses, mexendo em agendas antigas, peguei uma de mau
jeito, assim, entre as outras e dela caíram fotos, muitas fotos. Nem eu sabia
que tinha as guardado lá e vi sorrisos, sorrisos sinceros e uma cumplicidade
sem fim. Não senti saudades da moça da foto, embora fosse muito importante pra
mim que em algum lugar ela estivesse feliz, a saudade que eu senti foi daquela
calmaria, daquela tranquilidade. Pensei em como as coisas são mais doces assim.
Aquela coisa de brigar por bobagem ou coisas sérias, mas saber
que, daqui pouco tempo tudo estará bem de novo, isso se chama: (pensei um pouco
tentando encontrar a palavra certa) Cumplicidade! (concluí pensando em tanta coisa
ao mesmo tempo).
Cheiro de lar, aquela coisa de saber que se o mundo acabar
lá fora, pra qualquer das partes, qualquer uma delas poderá expor suas
fragilidades sem medo, e que a outra certamente será forte o suficiente naquela
hora, de largar suas dores e ir estancar as feridas da outra.
Eu olhei pra aquelas fotos e sorri, sem pensar disse em voz
baixa: Meu Deus, como eu fui feliz!
Pensei se havia a possibilidade de que existisse aquilo
outra vez em meus dias, não com ela, o amor que sinto por ela é outro, já não a
vejo como mulher. Nos amamos tanto, meu amigo. Mas já não a vejo como
mulher, às vezes como uma grande amiga,
em outras como um anjo da guarda. Mas como mulher não mais!
Mas pensei no quanto aquilo faz bem, o quanto é bom não se
sentir só, em momento algum. Mesmo que os afazeres não deixem que a comunicação
seja fluente, mesmo que só seja possível
ouvir uma voz cansada no fim da noite, sabendo que a tua felicidade também faz
parte da dela, e que a dela certamente é parte da sua. Quem já teve um amor
certamente me entende.
Não acredito na imortalidade desse tipo de coisa, pode ser
que um dia bata a porta o tal final, mas nesses casos, mesmo assim ele não traz
sofrimentos ensurdecedores. É saudável, só é saudável.
Claro que os grandes amores, em sua grande maioria começam em
paixões afoitas e desesperadoras, que podem vir a se tornar isso. Mas é desses
sentimentos que eu gosto, esses que passam por degraus, que vão evoluindo, e
que crescem trazendo calma, paz, aconchego.
E é claro também que nem sempre é assim, a vida tem as suas exceções
que às vezes são tantas que vem a se tornar regras, mas na maioria das vezes é.
Que me encha de luz essa coisa chamada vida, e que qualquer
dia distraído eu possa me ver vivendo outra história dessas – porque nenhuma é
igual a outra – e que quando ela acontecer eu seja maduro o suficiente pra
saber o quanto estou sendo feliz, e não veja só depois, quando eu me deparar
com as lembranças.
Hoje me bateu uma saudade enorme de um amor tranquilo,
respirei fundo e pensei: Que venha o que
eu merecer, que seja meu o que eu plantar. Que eu não me vá antes de viver um
amor tranquilo, presente e cumplice, pelo menos mais uma vez.
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