terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sobre os poetas.


Eu plagiei descaradamente todos os dizeres dos poetas, me vi em muitos deles e então me entreguei a aquela viagem. Fiz as malas e parti, fiquei partido em algumas ocasiões. Eu falei sobre as constelações e tentei escrever qualquer coisa boa o suficiente pra suprir a minha angustia, não fui capaz e rabisquei todos os meus próprios dizeres. Inconclusos, incorretos.
Rasurei algumas páginas do meu livro, escrevi outras coisas por cima e no final de tudo não sabia o que era correto fazer. É que eu tenho escrito tanto, tenho feito isso compulsivamente, como se minha alma quisesse dizer algo que as palavras não alcançassem mas tentassem de alguma forma abraçar.
O meu quarto se transformou num amontoado de papeis rabiscados, como se lá residisse um poeta compulsivo, apaixonado por coisas que nunca seria capaz de escrever. Mas que frustradamente tentava.
Tão escravos da própria sorte são os poetas, tão frágeis são todos eles, donos do dom de descrever os sentimentos, prisioneiros de seu próprio dom, artistas.
Quem dera tatuar na alma cada palavra que acabo por desferir contra mim mesmo, quem dera deixar de descrever o amor e viver o amor. Tão metódicos acabam por não solucionar qualquer questão, nada práticos fazem da alma uma casa desarrumada e se distraem tentando colocar tudo em ordem, por dias a fio, e por aí vai.
Entrego-me as palavras, como se delas pudessem vir as soluções. As palavras nada resolvem, só fazem de mim um poeta, e se fosse eu um poeta refinado, e se fosse eu um poeta diferente, tudo bem. Mas sou eu só mais um poeta, desses que escrevem em murais ou em qualquer pedaço de papel.
Brincando com a minha própria existência, como se dela eu pudesse extrair mais uma canção, sou eu só um amontoado de sentimentos. Só isso.
E se eu escrevesse com com um pedaço de papel e caneta, se somente escrevesse, tudo bem também. Mas eu escrevo com a alma e às vezes me entrego as lágrimas borrando a folha de papel, escrevo com um sorriso em lábios, escrevo sempre sendo o personagem principal, mesmo que este eu seja eu mesmo, mesmo que este eu seja criado.
Olhe só, a noite chegou mais uma vez – sou uma espécie de poeta notívago - e outra vez as palavras vem me pedir licença pra habitar a folha em branco, dou espaço a elas e me entrego ao que vier. Me entrego ao que sentir, me entrego a minha própria sorte.

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