Eu
plagiei descaradamente todos os dizeres dos poetas, me vi em muitos
deles e então me entreguei a aquela viagem. Fiz as malas e parti,
fiquei partido em algumas ocasiões. Eu falei sobre as constelações
e tentei escrever qualquer coisa boa o suficiente pra suprir a minha
angustia, não fui capaz e rabisquei todos os meus próprios dizeres.
Inconclusos, incorretos.
Rasurei
algumas páginas do meu livro, escrevi outras coisas por cima e no
final de tudo não sabia o que era correto fazer. É que eu tenho
escrito tanto, tenho feito isso compulsivamente, como se minha alma
quisesse dizer algo que as palavras não alcançassem mas tentassem
de alguma forma abraçar.
O
meu quarto se transformou num amontoado de papeis rabiscados, como se
lá residisse um poeta compulsivo, apaixonado por coisas que nunca
seria capaz de escrever. Mas que frustradamente tentava.
Tão
escravos da própria sorte são os poetas, tão frágeis são todos
eles, donos do dom de descrever os sentimentos, prisioneiros de seu
próprio dom, artistas.
Quem
dera tatuar na alma cada palavra que acabo por desferir contra mim
mesmo, quem dera deixar de descrever o amor e viver o amor. Tão
metódicos acabam por não solucionar qualquer questão, nada
práticos fazem da alma uma casa desarrumada e se distraem tentando
colocar tudo em ordem, por dias a fio, e por aí vai.
Entrego-me
as palavras, como se delas pudessem vir as soluções. As palavras
nada resolvem, só fazem de mim um poeta, e se fosse eu um poeta
refinado, e se fosse eu um poeta diferente, tudo bem. Mas sou eu só
mais um poeta, desses que escrevem em murais ou em qualquer pedaço
de papel.
Brincando
com a minha própria existência, como se dela eu pudesse extrair
mais uma canção, sou eu só um amontoado de sentimentos. Só isso.
E
se eu escrevesse com com um pedaço de papel e caneta, se somente
escrevesse, tudo bem também. Mas eu escrevo com a alma e às vezes
me entrego as lágrimas borrando a folha de papel, escrevo com um
sorriso em lábios, escrevo sempre sendo o personagem principal,
mesmo que este eu seja eu mesmo, mesmo que este eu seja criado.
Olhe
só, a noite chegou mais uma vez – sou uma espécie de poeta
notívago - e outra vez as palavras vem me pedir licença pra habitar
a folha em branco, dou espaço a elas e me entrego ao que vier. Me
entrego ao que sentir, me entrego a minha própria sorte.
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