Abraçou aquele velho livro aonde vinha escrevendo toda a sua
trajetória e o atirou ao chão, em seguida jogou gasolina e ateou fogo.
Precisava ser novo, de novo, só pra constar.
Queria no fim daquela tarde repousar em seus próprios
braços, estava só por opção, precisava fica só. Tomou um banho reconfortante,
colocou roupas frescas e sorriu aquele velho sorriso largo, não tão maldito ou
quem sabe mais maldito que nunca. Havia plantado ilusão no coração de algumas
mulheres em um passado não muito distante, mas nem a ilusão cheia de fatos
maliciosos sabia mais plantar, agora ele simplesmente encantava – porque nunca
conseguiu se livrar do prazer de encantar- e ia embora, sem ao menos tocá-las,
fazia com que desejassem seus braços e em seguida virava as costas, sem nem mesmo
explicar porque, pior, sem nem mesmo saber por que faz isso.
Intocável, era simplesmente assim. Agora ele se tornara
intocável, misterioso. Aquele tipo de menino que por mais que você queira ter
pra sempre, não teria ao menos por uma noite. Ele já não era pra sempre há
algum tempo e de uns tempos pra cá passou a não ser nem por uma noite. Se
esbaldava de prazer em encantar e ia embora sem permitir um toque. Ainda mais
cruel, sem saber por que, menos carnal naquele instante. Mas cruel sim, cruel.
Era como se aquela solidão fosse necessária, não dolorida,
mas necessária, como um animal que fica mais arisco quando você invade a zona
de conforto dele. Definia-se assim, um animal arisco, que por mais que
encantasse não poderia ser tocado.
Ainda tinha desejos carnais, mas não os colocava em prática,
porque dentro de seu silêncio, tocar outro corpo que não abrigasse o coração
seria como deitar em uma cama de espinhos, deixar com que habitassem o coração
seria sair da zona de conforto. Por isso se trancava, não queria saber que lhe tocassem, nem no corpo, nem na alma,
já que naquele instante parecia não existir um linear entre um e outro. Ele
havia deixado a alma à mostra, ele andava um pouco encolhido, como se pudesse
guardar o corpo dentro dela.
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