terça-feira, 26 de março de 2013

Hoje.







Ainda era tempo, e por isso colocou os pés no chão devagar, se levantou um tanto quanto cambaleante e foi até o armário, colocou roupas quentes e se olhou no espelho. Nos olhos um brilho quase que infantil. Tinha sono, frio e sentia que dentro de si uma lacuna o chamava a sair naquela noite chuvosa.
Não sentia nada além do frio, no peito um coração batia forte quase que dominando todo o corpo. Durante o caminho algumas mulheres o olhavam com certo ar de curiosidade, ele sorria aquele sorriso maldito,  ele seguia a deslumbrar e ser deslumbrado. Ele ainda era um menino carnal, áspero ao mesmo tempo em que suave, amargo ao mesmo tempo em que doce.
Lembrara-se de quantas vezes pegara algumas dessas mulheres pela cintura, pelas coxas, pela nuca, quantas vezes foi mais corpo, quantas vezes foi mais instinto que coração. Mas naquela noite pegou o telefone e pensou em ouvir uma voz que a muito não ouvia.
Malicioso ele olhou pra muitas dessas moças que passavam, deu outro trago no cigarro, se manteve imponente, tinha um certo charme, assim como todos esses meninos que são como ele. Ele sabia como ser tocado, ele sabia como tocar os desejos mais sutis de algumas daquelas moças que entre uma chuva e outra passavam a desfilar olhares, sorriso, coxas e decotes.
Eu nunca fui menino inocente, admito todas as minhas culpas e dolos, admito a minha imprudência, jamais a minha negligência. O não fazer nunca foi bem aceito nessas linhas tênues que eu sigo, entre o bom menino e o moleque.

Hoje eu estive a contar estrelas e fazer juramentos, hoje eu estive um tanto quanto aflito com o coração, e por isso resolvi escrever sobre o menino que sou, sobre o menino que fui, sobre o menino que você, tão negligente me deixou ser.
 

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