quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um pouco, nada mais.




Seria eu um profeta de meias palavras, que no fundo sabe o real sentido de tudo o que diz, mas que diz como num jogo que nem ele mesmo entende. Dou-te o afago do meu carinho, mas entenda, é só um afago, não tente enxergar o que existe além dos meus olhos tão escuros.
Seria eu um mago, um alquimista! Seria eu um menino que mal sabe onde deixou o outro pé do tênis, o maço de cigarros, o outro molho de chaves. Seria eu o que quisesse ser.
Sempre anotando uma coisa aqui, outra ali pra não esquecer. Sempre me lembrando de tudo o que não preciso anotar. Carregando no rosto um sorriso largo. Mal sabes, mal sabes onde estão as crateras, mulher! Faço delas poesia e me esqueço da hora de voltar pra casa, tomo mais uma dose.
É que eu ando tão desacostumado com coisas que continuam. Pra mim o mundo é agora, e depois. Depois eu ascendo outro cigarro, peço mais um café pra curar a ressaca e pra adocicar a fumaça.
Eu não sei quantos corações feri até agora, mas sei exatamente quantas dessas mulheres cravaram o salto no meu peito, trago cicatrizes, não vivo de passados mórbidos, mas sei exatamente a proporção de cada dor que senti, e por isso não ligo de ser tão relapso com certas coisas.
Mas essa tarde tão fria me deixa mais calmo, o café quente sobre a mesa, minhas palavras tão sinceras, tão minhas fazem de mim, pelo menos no instante em que escrevo, um menino mais feliz. Ando tão meu, sem ninguém de forma ativa no peito, não vivo a sorrir um amor, mas também não choro mais amor algum. Sou só um menino, sem boas nem más intenções

Nenhum comentário:

Postar um comentário