Não dá pra
me tocar sem se sujar de sangue, não dá pra chegar perto de mim sem sentir tudo
o que vem dos meus mais profundos quereres. Eu me fecho para o mundo afim de
que não percebam quem eu sou. Tá vendo todas essas belas mulheres, meu amigo?
Eu não as deixo me tocar, afim de que não se desfaça a farsa, afim de que ainda
me desejem, eu não as deixo me tocar.
Hoje, quando
sorri pela manhã em frente ao espelho, eu estava treinando aquele meu antigo
sorriso maldito, tinha me esquecido dele. Aquele que se abre automaticamente
quando quer esconder as sombras dos meus olhos escuros, quando quer esconder
quem eu realmente sou.
Eu sou o
menino triste que caminha, meio desajeitado com alguns cigarros, alguns
trocados e as mãos nos bolsos. Eu sou o menino que vai ao encontro de alívios imediatos
para uma dor que ele mesmo desconhece. Não é um sentimento fixo, ele não sabe
ao certo o que é, na verdade são tantas coisas. Tantas perdas irreparáveis,
tanta coisa que ficou pra trás. Aquela falta de proteção, aquela que ele um dia
teve mas que se foi e ali ficou. Exposto ao mundo.
O menino
simplesmente foi convidado a não ter futuros, só presentes que formam passados
desastrosos. Ele não vive de passado, mas são poucas as lembranças boas e é
nenhuma a estimativa do futuro dele. Por isso ele sorri, um sorriso vazio, às
vezes encantador a certas mulheres que o terão, por uma noite, quem sabe.
Ele se entregou
algumas vezes na vida, quis ficar. Mas não era merecedor dos dias de sol, ele
não era são o suficiente pra aquilo. Lhe ardiam as pupilas, lhe provocavam
alvoroço, pavor, medo.
Era um bom
menino, mas não sabia porque lhe agredia o sol, o céu azul. E assim ele partiu
pra seus dias cinzas, o café quente e a vontade de partir pra jamais voltar.
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