Seria o Pierrot de
outros carnavais, se não andasse por aí com vestes negras, olhar distante e
certezas irracionais. Veste uma nova fantasia pra não mais sorrir. Se antes ele
era o amante que sofria no carnaval, mas ainda exibia cores, hoje ele não
espera mais o carnaval chegar.
Deixou pra lá! Simplesmente deixou pra lá!
Não prevê amores futuros, nem beijos de bom dia. Não quer
mais tudo o que um dia quis, sabia que ser sozinho era um dom bem mais
encantador do que o de ser dois. Se completar sozinho, sorrir sozinho, seguir
sozinho. E ele sabia, aquele era o seu maior dom e seu pior castigo.
Toda mulher se sente atraída por um sorriso largo, que traz
nos olhos uma certa tristeza, escondida ali no fundo da alma. É uma essência doce
que traz um Q de amargura, é como aqueles tangos que são tudo ao mesmo tempo,
intensos, tristes, vulgares e doces.
Ele se sentia vivo quando o amor fazia pulsar as veias, mas
se sentia ainda mais vivo quando sangrava, quando trazia pra si de volta aquele
olhar de menino triste, assim, como em um tango.
Se sentia vivo quando aquele choro se tornava sujo outra
vez, não era mais aquele choro limpinho de menino, era uma enxurrada capaz de
levar tudo por onde passava, era ele fácil de ser notado, mesmo quando só
observava.
Não tinha medo de assumir suas dores, mas misturava tudo
isso com o resto de sua essência, saberia ficar mas preferiu partir, pois era o
que ele era. Ele era partida.
Distorce teu zelo, transforma em
desmazelo achando que pode fingir que não era amor. Veste a cara que o carnaval
logo chega!
Mas aquele menino de cara limpa e
olhos escuros - como o céu em noite sem luar, como a escuridão que amedronta
qualquer um, menos ele – não precisa usar máscaras, não precisa mais mentir pra
si mesmo, não precisa mais que chegue fevereiro. Ele era o Piorrot em outros
carnavais, até que a máscara não serviu mais e ele partiu. Já que é o que de
melhor ele sabe fazer.
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