sábado, 18 de agosto de 2018

Sobre caixas.

Já fazia algum tempo que não olhava para  dentro. Guardava tudo o que sentia numa pequena caixa de madeira, no canto da sala, trancada a pregos e martelo. Não ousava abrir.
Chorou incansavelmente por noites a fio, exatamente por não querer falar sobre aquilo, deixou com que o vento frio da madrugada - que cortava seu rosto- fosse a sua única dor conhecida.
Sabia que se destrancasse os pesadelos tornaria a ter medo de dormir, perderia aquela paz que inventou, desenterraria tudo aquilo que anulou.
Tinha um sorriso largo, leve e alegre. Passava isso para outras pessoas, meio inconsequente chegava a ser um pouco criança. Era o que tinha sido um dia, era o que não conseguia ser mais.
Por onde andam seus sonhos? Porque te deixastes para depois? Perguntava a ele mesmo, sem resposta. Ele só havia desistido.
Não tinha mais encanto naquilo, ainda era o bom menino contador de histórias, mas junto do sorriso largo tinha os olhos marejados, um peso nos ombros que o fazia andar de lado, com o olhar perdido em alguma coisa, algo que não conseguia saber o que era, já que, certamente guardou naquela caixa, no canto da sala, selada a pregos.
Certa feita falava de sonhos e planos, andava por aí se divertindo com os próprios erros, escrevia sobre amores momentâneos e outras coisas da vida. Não se prendia a obrigações e voava de acordo com o vento. Pois é, hoje eu acordei com saudade de você e a dor era tamanha que não consegui mais dormir!
Hoje eu acordei com muita saudade de você que morava aqui, dentro de mim, tão vivo, tão meu.
Pois é, hoje foi o dia em que finalmente eu senti falta de mim.

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