sábado, 1 de março de 2025

Chamas.

Era uma vez uma alma jovem, vivendo as delicias e impurezas do mundo, buscando desaforadamente o que acreditava ser seu. Sem escrúpulos ela apostava no amor, no amor a si mesma da forma menos louvável possível. Dedicada ao seu próprio prazer, mesmo que custasse a dor alheia. Nós nascemos assim nesse universo. Eu sei, meu amor, nosso passado não nos orgulha, mas ainda éramos uma só.
Sem virtudes, sem empatias, sem nada do que deveríamos aprender, e aí, certa feita, o universo descobriu que era certo nos dividir, porque assim, vivendo duas realidades evoluiríamos de uma melhor forma.
Eu me lembro daquela dor, do membro sendo arrancado com a força voraz que só o universo tinha, como se a metade ainda ficasse, mas como se a outra nunca fosse capaz de sobreviver, foi a maior dor que eu já senti. Eu estava pela metade, caminhando pelo deserto da incerteza e falta de completude, no começo eu não entendi, eu jamais havia experimentado uma coisa tão avassaladora e pensei: "Quanta dor eu causei, será que doeu tanto assim neles também? Por onde anda a outra parte de mim? Quem sou eu agora?" Pode parecer inacreditável, mas agora eu me lembro. 
E assim nós caminhamos por vidas e vidas, separadas. Vivendo nas sombras e na luz, trabalhando para as sombras e para a luz, cada parte ao seu modo, da forma que achávamos que deveria ser. E certa vez ou outra nos encontrávamos, de forma avassaladora, nos reconhecíamos num primeiro olhar, mas de tão diferentes nossas vivências, você fugia de mim. Eu só queria estar contigo, independentemente de tudo.
E assim, você era novamente arrancada de mim, e mesmo sabendo que você de certa forma queria ficar, eu sofria, de novo a mesma dor. O membro arrancado, a ferida aberta, inclinava o peito e seguia, sempre em frente.
Eu te vi, tarde dessas. Olhos de luz! Claros como os meus sonhos mais concretos, olhando para mim, era sábado, eu me lembro muito bem!
E eu pensei: " Seja bem vinda!" Eu sabia que aquilo era imenso, mas não fui capaz de saber o que era, eu tinha aprendido tanto que não era mais tão dependente dessa minha outra metade. Mas a reconhecia muito bem! Dessa vez a gente tinha muito que ensinar e aprender uma com a outra, mas ainda éramos corredora e perseguidora. E eu não sabia o que fazer! Mas eu teria te reconhecido em uma multidão.
Olhe só meu amor, mais um domingo vem chegando ao fim, e você sabe o quanto eu odeio os domingos, e inclusive foi em um domingo que eu te deixei. Quero que saiba que vez ou outra eu ainda sinto e ferida aberta de quando nos separaram e que eu espero que o universo seja gentil com você.
Eu quero que saiba que eu ainda sonho com o dia em que possamos caminhar, de mãos dadas, pela infinitude do universo, assim como fazíamos antes, mas agora com mais luz. 
Pode levar alguns meses, alguns anos ou algumas vidas, mas ainda seremos novamente inseparáveis. É essa certeza que preenche meus dias. Cuidar de mim para cuidar de você, porque essa é a única forma de nos unir novamente. 



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