sábado, 15 de março de 2025

Caminhar.

Não tinha muito o que dizer, nunca tivera. Os pensamentos sempre tão rápidos o deixavam perturbado. Parecia tão organizado das coisas, mas estava bagunçado, sentia o efeito do feito desfeito. Sentia a ressaca dos ditos de um peito, que não sabia ao menos se explicar.
Era poeta, "escrevedor" das palavras que não sabia dizer, o pensamento sempre tão acelerado, o coração na mão. Os amores daquele verão não seriam mais os mesmos.
Caminhava, mãos nos bolsos procurando alguma coisa. Não eram as chaves, nem os cigarros. Não eram bilhetes, muito menos o coração.
Tinha caminhado por dias e dias, trazia um sorriso estranho. Não estava completo, deixava em cada pegada um pedaço de si, se sentia desfeito, mal feito e sem efeito sobre nada. Talvez fosse só o desajeito.
Correu até a estação, perdeu o trem, se sentou a beira dos trilhos e logo se fez alarde!
Chamaram os bombeiros, a polícia e até o presidente. Onde já se viu rapaz tão jovem querendo se jogar na linha do trem? Logo chegaram os jornalistas. "Última notícia! Jovem rapaz ameaça se matar".
Ele sorriu, na verdade só queria ver de perto o próximo trem chegar. Onde já se viu por fim a vida porque perdeu trem? Perdeu o passo? Perdeu a hora?
Gente doida! Pensou ele balançando os ombros e evitando todos se aproximarem.
Andou na noite escura e aos poucos toda aquela gente histérica se tornou apenas um barulho distante, e ele, o gerador de todo aquele alvoroço ganhou o que precisava. Silêncio para que os pensamentos pudessem gritar.
E aí, ele chorou.
Não sabia explicar porque, talvez a solidão lhe caísse bem, feito a roupa de inverno que gostava de usar. O sobretudo preto, o cachecol. Talvez achasse até mais bonito caminhar.
Mas ainda era verão!
É os amores daquele verão não seriam mais os mesmos, desde que ela o deixou caminhar.



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