Entrei em contato com a empresa brasileira de correios e telégrafos, os proibi de me enviar coisas assim. Onde já se viu enviar aquilo a alguém? Abri a caixa vazia e em suas paredes haviam escritos, escritos em vermelho sangue. As palavras confusas, quase fui incapaz de ler.
Apertei bem os olhos e vi vísceras, todas misturadas. Pareciam frescas, e em um impulso arranquei meu coração e juntei a elas. Encravei as unhas no peito e com muita dor o retirei. O entreguei a aqueles órgãos, como que em um impulso. Fui perdendo o pulso até adormecer. Nada mais fazia sentido.
Dia desses havia sorrido, era tanto sol, era tanto bem querer. Mas sempre que o sol brilhava parecia presságio de tempestade duradoura, era sempre o meu querer bem a mim mesmo misturado a toda a inquietude de jamais acreditar. Talvez eu só estivesse existindo, existindo e escrevendo, escrevendo e voltando a dormir.
Quando adormeci tive um sonho, gente caminhando devagar em pleno inverno. Não esses invernos que vemos passar. Era um frio de arrebentar a alma, eles eram tristes. Eu era feliz.
Sorri, quase que em um riso doentio, sem sentido algum. Atravessei a sala olhando nos olhos de todos, todos tão frios. Tropecei em meus próprios pés, pedi desculpas e saí.
Palavras entrelaçadas, eu nem sabia o que falar - ou escrever - naquele momento. Seja lá o que for, não fazia sentindo e não me trazia de volta. Era como se nada mais fosse capaz de suportar a grandeza da minha alma misturada a pequenez dos meus ditos. Talvez fosse melhor ficar calado.
Eu acho tão ameaçador entregar essas coisas as pessoas. Caixas e mais caixas de vísceras.
Meia hora depois a campainha tocou, era o carteiro. Entrega errada, ele dizia. Eu devolvi a caixa.
Meia hora depois eu percebi que não peguei de volta o coração.
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