E no final da noite, tocou a mesma canção. Eu a sabia de cor, embora sempre me surpreendesse com suas nuances. Eu estava devastado pela vida, e só queria deixá-la.
Talvez um veneno, talvez um novo amor. Ambos me matariam, cada um a seu jeito.
Eu ouvi a mesma canção, e ela me falava sobre algo que ainda me deixava petrificado. Eram tantas as feridas que cobriam o corpo de sangue, e eu parado, ali, no mesmo lugar não pensava em nada. Apenas sentia a dor de estar ainda vivo.
Cambaleei até a mesa e comecei a escrever outro poema, com o sangue que jorrava de mim. Eu não estava certo de que aquilo era meu último poema, mas rezava para ser.
Eu, com a dor insuportável de estar vivo, as palavras com a dor insuportável de estarem vivas para sempre. Nós nos completávamos.
E comecei a escrever, talvez apavorado pela dor usei de palavras maçantes e muito diretas. Era quase despedida. Eu estava partido e partia a cada instante.
Eu me despedia dela, enquanto não era ela quem me matava, mas sim a própria vida.
Eu pulsava ainda, por sei lá quanto tempo pulsaria. E sempre que fosse mais forte menos tempo, mais sangue. Mais eu ia embora.
E eu parti.
O poeta partiu mais uma vez. E com o coração em mãos o colocou no bolso, acordou e foi viver mais um dia. Foi morrer um pouco mais.
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