quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O que ninguém sabe é que...


Naquele dia ele não sabia exatamente o que fazer, tinha um peito vazio, o dia estava nublado, o café estava frio, o sono não chegava, nada parecia estar em seu devido lugar.
Então resolveu parar um pouco, nada parecia o agradar, tentou escrever uma ou duas vezes, as palavras não fluíam, então desistiu, amassou as folhas daquele velho diário onde anotara por toda sua vida os pensamentos mais secretos, aqueles que nem ele mesmo era capaz de voltar a ler.
E então tentou pensar nela, ela estava distante de todos os seus novos sonhos, já não fazia parte daquele mundo que ele criara, tudo era alheio, parecia uma outra pessoa, parecia que o tempo o transformara em alguém sem muita vontade de sentimentos grandes, alguém que sabia exatamente o que fazer, mas mesmo assim não fazia.
Ele estava vazio! Não tinha em quem pensar segundos antes de dormir com aquele ar de paixonite aguda que aterroriza os sonhos, mas mesmo assim uma estranha paz o perseguia, ele sabia que aquilo era confortável, só não entendia ao certo se era correto.
Sempre imaginou que seus dias seriam repletos daquela paixão que não mais sentia, não sabia ser só, mas teria que aprender mesmo que custasse caro. Sabia também que quando se acostumasse outra paixão surgiria, sabia que era inútil aprender, mas queria saber como é viver por si mesmo e assumia os riscos, afinal de contas não havia paz naquele coração há muito tempo.
Vinha experimentando outros sabores, gostava daquilo, outros corpos lhe eram agradáveis, meninas, mulheres, cada uma com suas particularidades, ele fazia uma barreira e tentava se satisfazer com aquilo embora soubesse que não o levaria a dias de sol em um lugar distante, a beira do mar fazendo planos para o futuro. Ele se divertia como podia e achava até interessante.
“Amores sem ciumes, mãos, bocas, perfumes,” sim! Ele sabia a cada dia mais sobre tudo aquilo, como se fosse um mundo intocado, deixado pra trás no dia em que a conheceu.
Há um lugar no tempo e na memória guardado pra cada uma das coisas que ele vinha conhecendo, não lhe era interessante pular fases, era importante saber o sentido de cada uma daquelas coisas, e assim ele deixou que no lugar daquela noite nascesse o dia, e que daquele dia viessem outros, e cada dia sabia exatamente o que fazer. Mas enfim, ele não fazia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário