terça-feira, 5 de julho de 2011

Só devaneios, devaneios do amor.


Sai de casa era cedo ainda, por volta das vinte e uma horas. Onde já se viu rapaz de família sair de casa depois das vinte e duas? Onde já se viu?
Passei em um boteco e comprei uma garrafa daquele vinho que nem é tão bom assim, um maço de cigarros e algumas balas de hortelã.
Fui andando pela rua devagar, meus amigos saem de casa depois das vinte e duas, e eu me fazendo de rapaz de família em casa, agora ando pela rua, esperando meus amigos iguais a mim que nem se fazem de bons rapazes.
Tiveram dias em que eu sai depois das vinte e duas, mas sabe como é? Família tradicional, aos poucos as implicâncias começam a influir na minha liberdade, por isso saio cedo, mas volto a hora que quero. Nunca entendi isso de não controlar hora de voltar controlando hora de sair, mas tudo bem.
Comecei a andar pela paralela daquela avenida onde nos beijamos pela primeira vez, me fiz de bobo segurando aquela rosa que colhi pra ti menina. Fiquei ali, somente apreciando aqueles teus lindos lábios, você toda ousadinha me puxou pra perto de si. Meio que não me deixou nem pensar na possibilidade de fazer isso primeiro. Por fim, meus pensamentos mudaram.
Estava tão frio, que as pontas dos meus dedos estavam congeladas, comecei a esfregar uma mão na outra, coloquei a garrafa no chão e me sentei. Acendi um cigarro.
Onde já se viu menino metido a rapaz, ficar pensando no amor a essas horas? Onde já se viu?
Eu estava completamente desiludido naquela noite, mas de uma forma estranha voltei a pensar nela com carinho. Comecei a me lembrar das coisas boas sabe? O que nos levou a não estamos mais juntos começou a ficar distante. Me lembro que nesse instante chorei.
Chorei, enxuguei as lágrimas correndo com medo de quem alguém visse e aí pensei: -Que tolice essa a minha! Todo mundo chora por amor, os fracos escondem, os fortes se mostram. Daí vieram outras lágrimas.
Mudei de rota, desisti de sair com os amigos, resolvi ir até a casa dela.
Eu sabia onde ela morava, nunca havia ido lá, tinha uma vaga noção de onde era, mas eu ia encontrar.
Quando estava a caminho pensei: - O que ela vai pensar? Já é tarde! Se eu chego chorando aqui, cheio de história pra contar, ela pode me rejeitar e me mandar crescer. Ser menos moleque. Ai retruquei comigo mesmo: - Mas que moleque deixa de sair com os amigos pra ir ver uma menina, quando eles nem sequer estão mais juntos? Chega chorando cheio de certezas? Que moleque expõe tantos suas feridas e se entrega assim ao amor?
Pensei, pensei e tive certeza de que ela não levaria a mal.
Quando cheguei não quis apertar a campainha, como já disse antes era tarde, colhi uma flor no jardim e subi naquela arvore que dá na varanda dela, e a chamei, baixinho algumas vezes. Ela me ouviu.
Quando abriu a porta da sacada olhou pra mim com cara de assustada. Eu todo desajeitado segurando a garrafa de vinho e a flor na mesma mão pra não cair da arvore disse: - Será que eu posso entrar? É que ele me trouxe aqui!
-Ele quem? Perguntou ela.
O amor! Foi o amor!

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