segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pode ser.


Eu tinha tanto pra falar quando você abriu as portas e decidiu me deixar, eu tinha tanta coisa guardada pra você e fazia em silêncio pra te surpreender, eu tinha uma vida pra ti e esperava tampar seus os olhos com as mãos e te apresentar nosso novo lar.
E quando parecia que eu não estava fazendo nada, eu estava ali abrindo mão de minhas vaidades simplesmente pra ter uma vida comum, pacata, com um jardim e filhos lindos, coisas daquelas em que eu esperava que você esperasse pra ver.
E agora eu vejo o jardim em minha frente, eu vejo tudo aquilo e gasto em vaidades que não me suprem nada, é claro que eu teria elas, um dia, ao seu lado. Agora me interessava comprar o jardim
com todas aquelas flores que eu queria te dar. Entendes? Não! Eu sei que não entendes.
Eu me criei num mundo de conto de fadas e histórias bizarras, eu iludi corações antes de cuidar do seu, eu tenho uma tendência forte a uma vida cheia daquelas vaidades, eu sei que tenho alma de sultão, mas enfim, eu quis ser um cidadão pacato, com trabalho e contas a pagar, eu quis uma coisa diferente, de toda essa minha boa vida, de todas essas minhas manias. É eu andei querendo ser feliz a moda antiga.
E agora, no auge de todas aquelas coisas em que eu sentia prazer, pessoas que me ligam em busca daquela pessoa de antes, eu finjo ser a pessoa de antes, mas confesso, não sei mais iludir corações, porque quando olho pra aqueles corações eu vejo o meu, em frangalhos, eu vejo a cura em fim de noite, um cigarro, um copo e um corpo. Um corpo que não é o seu.
E quando me dizes que foi só uma ilusão eu lembro de como era nosso amor, eu sei que foi real, eu sei e isso me importa. Me importa também saber que por você eu deixei vaidades que hoje eu retomei. Eu, cidadão médio privilegiado, reclamo do sabor da cerveja mal gelada e do gosto da vodka ruim vendida como boa. Eu com tanta dor no peito não sou diferente da prostituta que se refere Caio, eu tenho um coração ferido como o dela.
Não sabes a metade das coisas que eu vinha planejando e fazendo por ti, em segredo pra te surpreender, assim como eu não sei quais foram os motivos que te tiraram de mim. Eu só sei que um dia a gente se esbarra, um dia a minha vaidade e sua falta de paciência se esbarram e daí, se as duas resolverem se casar e nos abondarem pode ser que possamos nos sentar e conversar sobre as coisas da vida. Pode ser.

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