segunda-feira, 19 de março de 2012

Menino bom.


Ai me vi parado no tempo, chorando feito criança. Ali sentado no lugar mais alto, no mais baixo, não sei definir, só sei que dali via minha vida toda frente aos olhos e não conseguia parar de chorar.
Disse olá a minha princesinha dos contos de fadas, de cabelos coloridos e sorriso infantil no rosto: “-Ela já é uma mulher!” Algo dentro de mim resmungava, eu teimava em afirmar: “- Ela será pra sempre minha princesinha!”
Me lembrei do meu meninão, que não é igual aos outros, pelos lisos, meu meio quilo, me lembrei de todas as vezes que me esperava dormir e vinha dormir apoiado em mim, resmungado quando eu me virava, aquele que eu dei nome e vi crescer lindo. Meu meninão era mais que um animalzinho, é meu filho.
E aí comecei a pensar porque é que estas coisas me vieram a cabeça assim, eu os amo, eu a amo, mas já não é como mulher, é como se fosse um ser de luz, culpado pelos melhores momentos da minha vida ao longo de anos, já não era uma paixão, mas era a lembrança mais concreta da proteção.
Me fazia falta a proteção, consegui entender.
Sabe amigo, o tempo vem sendo cruel com esse menino aqui. Ele é só uma criança que quer proteção, e que as vezes se perde, se perde em beijos que não trazem paz, mas que trazer uma proteção ilusória, trazem algumas horas de distração ( me senti melhor um pouco, me senti não sendo um menino mau).
Mas aí me lembrei das várias vezes que durmo em outros braços, e outros, esperando que algo chegue ao coração, me iludo e me desiludo. Me perco nesse mar de ilusão.
Eu sou só um menino, escute só, escute só, a vida passando. Passando como um trem barulhento que não me deixa entrar nem em seu último vagão.
Por que será que o menino que gosta tanto da proteção não se deixa envolver? Por que não?
Se são tantos os braços que lhe procuram, com olhares completamente entregues, se são tantas as procuras. Por que será que são tão poucas que chegam ao coração?
Comecei a me lembrar daquelas que chegaram, do conto de fadas a tragédia grega, do mais absoluto caus a maior paz. Não que sentisse saudade delas, mas é que elas chegaram ao tão protegido coração.
Resmunguei novamente: “- Por que é tão difícil se deixar tocar menino? Por que?”
Me lembrei de outras moças com a mesma doçura que da primeira, são sentimentos diferentes, não consigo os confundir, mas mesmo assim senti falta do apego, da proteção.
A culpa é de quem? Será culpa do coração?
Me despi de todo e qualquer medo, me declarei perdido, me encolhi e pensei: “- O que acontece comigo? O que acontece?”
Pensei em discar aquele número e encontrar aconchego pro corpo nessa noite confusa. Decidi que não.
Não era a hora de bagunçar ainda mais as coisas, não estava inteiro, não sabia o que estava fazendo na verdade, mas consegui me conter.
Me lembrei de uma paixão bem mais recente, senti saudades, ah sim, desta por incrível que pareça senti saudades, mas enfim, deixei pra lá. Não era certo sentir sequer saudades. Não que ela não merecesse, mas porque não era justo comigo mesmo.
Joguei pro alto algumas alternativas de me livrar da solidão que amedrontava essa noite, mas não conseguia me esconder. Fazia frio por todo canto da casa, inclusive na minha cama. Fazia frio naquele coração.
Tentei dormir por diversas vezes, mas faltava algo que preenchesse o vazio, e desta vez nem era o vazio da cama, era um vazio de ilusão. Enfim, é necessário ter alguma ilusão.

Sem mais eu me julguei desprotegido, indigno de carregar no peito esse coração de menino bom.

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