segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Páginas. ( Quando o menino triste não está)

Caminhei triste e sozinho naquela escura tarde de inverno, no olhos algumas lágrimas que jamais cairiam, nas mãos um maço de cigarros um pouco amassados. Passo a passo eu ia trilhando aquele meu caminho torto, aquele sem destino algum. Foi quando a vi. Ela andava despreocupada, seguindo alguma canção que eu não sei bem o nome, cantando alguma história que eu não sei bem como começava, passou, me olhou e quis ficar um pouco mais, saber um pouco mais. Eu era um menino triste, aquele que rotineiramente eu via no espelho toda manhã, que sorria um sorriso maldito de moleque e quase conseguia provar para o mundo que era um menino feliz. Provava pra todos, menos pra si mesmo. Ali dentro daquele peito se fazia tempestade a toda manhã. Quando os olhos já despertavam marejados, ele olhava no espelho, lavava o rosto e forçava mais uma vez aquele sorriso maldito que por muitas vezes encantou uma ou outra mulher. Mas, era maldito aquele sorriso do menino. Não era real, era só uma ilusão bem desenhada, como naqueles filmes que no final não sabemos se é ficção ou história real. Pois bem, naquele dia ela parou para prestar atenção naquele sorriso, e teve de volta um sorriso sincero, há tanto tempo aquele sorriso não era sincero, o menino se sentiu bobo, abaixou a cabeça como não costuma fazer, tentou por uma ou duas vezes desviar o olhar, mas em seguida veio aquela sensação que ele sabia bem o que era, aquela que enfraquece as pernas a ponto de causar confusão, aquela coisa desnorteadora que sempre vem alguns minutos antes dos olhos começarem a brilhar, alguns segundos depois do coração passar a bater em um ritmo incomum, talvez o ritmo da canção que ela acompanhava. Eu era dela, e por mais que eu sempre fugisse de tais situações, era como se eu não pudesse dar sequer um passo sem voltar pelo menos dois atrás e me entregar aos encantos daquela mulher. E quando a olho nos olhos, durante a madrugada ou as vezes pela manhã, quando a olho nos olhos assim, de forma transparente no fim da tarde ou depois de um beijo, quando a olho nos olhos eu tenho a certeza de que o menino triste me diz: “Seja feliz meu amigo, eu estou cansado e preciso me recolher, mas este outro menino, aquele que é feliz, precisa ficar.” E aí eu a vejo dormir logo ali, ela dorme e sorri, eu sorrio ao vigiar seu sono, seus sonhos e o seu despertar.

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