quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Neurastenia.

Atravessei a sala com as mãos nos bolsos, era outra tarde de outubro, me lembro bem dos murmúrios das pessoas na enorme sala branca. Cada um contava mil acasos e fazia milhões de lamentações, eu estufei o peito e me sentei em uma cadeira branca de pés pretos, um pouco desconfortável cruzei as pernas e segurei o pé, num gesto bastante natural. Me mantive calado, um pouco cabisbaixo, me sentindo mal por não estar bem, me sentindo ingrato a cada problema pior do que todos os meus, e em vez de sorrir, eu me sentia pior por aquilo, pior e pior. Quando ela passou. Cabelos brancos, pele enrugada, segurando uma bengala e sorrindo, eu somente observei, ela me sorriu tão certa de si. Eu perguntei a algumas pessoas sobre quem era aquela senhora, mas para o meu espanto, ninguém sabe, ninguém viu. Outrora, em um um sonho eu a vi novamente, ela se apresentava como vida, mais propriamente a minha vida, assim enrugadinha, de bengala e cabelos brancos, mas com um grande sorriso em lábios, por fim entendi aquela dor repentina que vinha se tornando corriqueira, entendi as várias vezes em que não entendo o porque de tanta falta de vontade. Aquela velha cansada, sorridente era eu mesmo, em um espelho de realidades, era a vida me dizendo que o tempo passou devagar, dizendo que muita coisa aconteceu em tão pouco tempo e que aqueles acontecimentos tão pesados nos levaram tão depressa a atar as duas pontas da vida. Me lembro como se fosse ontem. Eu era tão jovem, meu amigo. Eu era tão velho também.

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