Aí mergulhei neste mar
sem volta, eu me perco sempre que faço isso!
Me coloquei dentro
daquele universo que as vezes me puxa pra cima, mas que na maioria
das vezes me puxa pra baixo. Me coloquei a escrever, outra vez.
Analisando cada dizer
como em um calculo minucioso e explorando aqueles sentimentos que nem
sei se são meus, mas que se tornam meus sempre que as palavras me
vem a mente. Não são simplesmente palavras, são um maremoto dentro
de mim, me remetendo a lugares incertos e não sabidos, me remetendo
ao mais profundo significado da palavra sentir.
Não quero ser
complexo, caro amigo, não quero ser complexo outra vez, mas acabo
por ser, acabo por me entregar por completo, como sempre faço. Nunca
fui de meias entregas, sei eu disto com grande pesar ou entusiamo, sei
eu disto sempre que me coloco a disposição das palavras e mais
tarde do sentimentos que elas trazem.
Me coloquei a
prateleira dos livros velhos, senti o cheiro empoeirado dos
sentimentos de tantos poetas e pensei se os meus também se
acumulariam um dia em alguma estante, junto ao pó e a degradação
natural das páginas.
Andei por alguns metros
e me sentei no fundo do corredor, sorri de lado com um ar um pouco
abatido, me coloquei a pensar.
Se são tantos os
dizeres corriqueiros, porque é que guardo pra mim as certezas mais
cruéis e também os mais belos desejos? Se são tão simples as
palavras, porque as torno tão complexas sempre que me vem a mente o
escrever?
Eu diria que sou um
poeta, mas não! Hoje eu não sou um poeta, hoje eu sou só um menino
sentado entre as prateleiras, observando livros velhos e mesmo assim
eu ainda me pergunto sobre os sentimentos que eles descrevem.
Quando as verdades mais
comuns se tornam algo distante da realidade eu me sento aqui, entre
as prateleiras empoeiradas das minhas lembranças, e delas vêm novas
histórias que falam sobre coisas que eu vivi, vez ou outra sobre
coisas que eu nem vivi, e eu, como um fantoche participo de um teatro
onde nem protagonista da minha própria história eu fui convidado a
ser.
Sorri outra vez
despercebido e com cara de sono, cocei os olhos e resolvi repousar.
Hoje não é dia de se perder em mil indagações, menino! O dia
esteve calmo e só por hoje seria bom dormir.
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