E quando teu dia
chegar? O que escreverás na lápide do teu tumulo?
O que será do teu
epitáfio?
Mas antes, antes que
isso aconteça, o que queres da vida?
Eu não preciso de
muito, caro amigo, já quis fazer fortuna, já tive mil e uma
pretensões deste tipo, até descobrir que não importava, que não
há o que tire do peito a solidão, hoje eu só quero o necessário,
hoje eu só preciso de ar nos pulmões e trabalho, não muito pra não
me deixar gelado, não pouco pra me deixar acomodado.
Eu já pensei demais na
solidão, até descobrir que ela é opcional, já nascemos e morremos
sozinhos. Não existe quem sinta pelo outro a dor do primeiro ar que
adentra o pulmões, não existe quem sinta pelo outro a angustia da
solidão da morte. Mas, a solidão não é regra, a solidão é
exceção, e é por isso que vivemos juntos, caso contrário
viveríamos cada qual trancado em sua própria cela, no seu próprio
calabouço.
Hoje eu vi um filme que
falava sobre perdas, aquelas, que a gente tem por distração. Aquele
momento em que poderíamos fazer algo pra mudar o rumo das coisas,
mas que por pura distração não fazemos, já fazia tempo que
pensava nisso, mas voltei a refletir sobre o assunto.
As vezes, quando temos
tudo entre os dedos, podemos nos distrair na certeza do concreto,
digo-lhes pior, não existe nada de concreto nesta vida! Os castelos
desabam, os muros se desfazem, os ricos vão bancarrota. Mas os
amores reais! Ah meu amigo, os amores reais hão de sobreviver!
O teu pai há de te
amar mesmo que se vá, a tua mãe há de te afagar onde quer que
esteja, o teu filho pode se irritar com os teus sermões, mas você
sempre será a maior referencia de amor dele, a tua mulher pode até
te deixar um dia, mas aquilo que plantaste no coração dela, cada
beijo terno, cada afago, cada noite em que a sós dormiram calados
respirando amor, ela há de levar.
Me voltei aos livros,
me voltei aos poetas, me voltei ao amor, aquele que conheço e pensei
na generosidade dele. Aí pensei na pobreza dos mais abonados de
recursos e pobres de coração, me senti tão rico com esse coração
no peito, cheio do tal do amor!
Eu não tinha muito,
caro amigo! Andava por dias difíceis, mal carregava o corpo, tinha
em mim uma fragilidade que poderia ser vista de longe, mas ali dentro
ainda havia calor, e por isso eu ainda era um menino rico, saudável
e vivo!
Mas, se hoje fosse meu
último dia, eu teria o que escrever na lápide do meu tumulo: Este foi um homem rico, e que diferente da maioria dos outros levou consigo
todo o seu tesouro.
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