Andei por algumas
horas, concentrado no relógio de bolso que eu trazia em uma das
mãos.
Me sentei no centro da
sala, não aceitava mais estar a direita, nem a esquerda, eu queria
pela primeira vez estar no centro. Olhei pela janela, e vi, ao longe
o relógio de uma catedral. Eram vinte e duas horas, em ponto, a
mesma hora que marcava meu velho relógio de bolso.
Ela passou chamando
minha atenção. No andar a certeza de quem há de chegar longe, no
lábios aquela cor que confundia meus sentidos. Me olhou direto nos
olhos, me teve por completo desde o primeiro instante. Me fez
esquecer todas aquelas mulheres que por noites a fio me arrastaram
pra seus lábios e caprichos, me fez olhar pra ela, ser dela sem ao menos
me tocar.
Eu teria caminhado
vidas a fio, só pra vê-la passar novamente. Só pra ver passar!
Se só de passar ela
prendeu as unhas nos pedaços mais frágeis da minha alma, mastigou
com gana os meus caprichos enquanto me beijava os lábios.
Depois dela eu vi
algumas outras passarem, só as vi, não quis tocá-las. E se tinham
belezas incomuns ou traços marcantes eu não sei, na verdade nem
notei se me eram atraentes aquelas coxas, se me eram interessantes
aqueles lábios.
Por um instante me
debrucei sobre os joelhos e me coloquei a olhar pra frente, como se
quisesse criar pra mim um outro caminho distante do dela, mas ainda
sentia o sabor do lábios dela impregnados nos meus, ainda sentia o
cheiro dela por toda a sala, ainda escrevia alguma canção afim de
que um dia ela pudesse ouvir.
Me levantei devagar,
sorri um sorriso tranquilo enquanto uma lágrima corria pelo meu
rosto. Me senti um menino bom, desejei a ela toda a felicidade do
mundo, onde quer que esteja.
As vezes ainda vou a
aquele mesmo lugar, na esperança de que um dia ela passe novamente, e
que desta vez eu não a deixe ir embora nunca mais.
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