sábado, 29 de dezembro de 2012

Passar.


Andei por algumas horas, concentrado no relógio de bolso que eu trazia em uma das mãos.
Me sentei no centro da sala, não aceitava mais estar a direita, nem a esquerda, eu queria pela primeira vez estar no centro. Olhei pela janela, e vi, ao longe o relógio de uma catedral. Eram vinte e duas horas, em ponto, a mesma hora que marcava meu velho relógio de bolso.
Ela passou chamando minha atenção. No andar a certeza de quem há de chegar longe, no lábios aquela cor que confundia meus sentidos. Me olhou direto nos olhos, me teve por completo desde o primeiro instante. Me fez esquecer todas aquelas mulheres que por noites a fio me arrastaram pra seus lábios e caprichos, me fez olhar pra ela, ser dela sem ao menos me tocar.
Eu teria caminhado vidas a fio, só pra vê-la passar novamente. Só pra ver passar!
Se só de passar ela prendeu as unhas nos pedaços mais frágeis da minha alma, mastigou com gana os meus caprichos enquanto me beijava os lábios.
Depois dela eu vi algumas outras passarem, só as vi, não quis tocá-las. E se tinham belezas incomuns ou traços marcantes eu não sei, na verdade nem notei se me eram atraentes aquelas coxas, se me eram interessantes aqueles lábios.
Por um instante me debrucei sobre os joelhos e me coloquei a olhar pra frente, como se quisesse criar pra mim um outro caminho distante do dela, mas ainda sentia o sabor do lábios dela impregnados nos meus, ainda sentia o cheiro dela por toda a sala, ainda escrevia alguma canção afim de que um dia ela pudesse ouvir.
Me levantei devagar, sorri um sorriso tranquilo enquanto uma lágrima corria pelo meu rosto. Me senti um menino bom, desejei a ela toda a felicidade do mundo, onde quer que esteja.
As vezes ainda vou a aquele mesmo lugar, na esperança de que um dia ela passe novamente, e que desta vez eu não a deixe ir embora nunca mais.

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