E foi assim que o rosto
dela, quase que febril tocou o meu naquela noite de inverno. Eu
estava disperso anotando mil afazeres sentado naquela poltrona de
palha que fica ao lado na varanda, com os óculos quase que na ponta
do nariz, tão concentrado que nem notava que a noite já caíra.
Ela apenas se curvou
até mim e sem palavras se aproximou, até que eu senti sua
respiração próxima e todos os afazeres ficaram pra depois.
Me deu um beijo suave
assim que levantei a cabeça para olhar nos olhos dela e se afastou
um pouco, ainda silenciosa olhando pra mim.
Me levantei, coloquei
minhas mãos em volta da sua cintura e a abracei, soltei um sorriso
leve enquanto encostava sua cabeça nos meus ombros e disse: - Que
saudade eu sinto de ti, minha menina, que falta me faz o teu sorriso,
minha mulher!
Percebi que ela também
sorria um sorriso leve, a abracei mais forte ainda. Ali, onde podia
sentir seu cheiro de forma confortável e tranquila.
Por onde andaste?
Foram noites frias aqui no centro do sudeste, e você não esteve
aqui! Me preocupei se estava se aquecendo direito, se não andou
abusando do frio, da noite, do álcool, da sorte, da fé. Pensei.
No começo eu chorava
maluco, me virando pela cama, depois eu bebia um dose forte e me
entregava ao sono que as lágrimas traziam. Com o passar do tempo
passei a tentar não pensar nisso, a não ser que esbarrasse em
alguma foto tua pela casa, daí voltava a aquele desespero do inicio.
Vez ou outra escondia todas elas, mas ainda tropeçava nas suas
coisas pelo quarto ou dependuradas no armário.
Depois veio a chuva, os
passeios tardios pelos bares da cidade, os amigos bêbados, os amigos
sóbrios, os amigos que também sofriam por amor. Depois, ainda
cansado fui visitar um velho amigo no campo, voltei ao meu quarto e
lá me tranquei por dias. Pensei sobre poemas e histórias
encantadas, vilões e mocinhos. Não me identifiquei com nenhum
deles. Me encontrei comigo e joguei na minha cara todas as coisas que
deveria jogar. Fiz as pazes comigo mesmo, me aqueci sozinho e aprendi
a dormir sonos leves. Voltei a pensar em você.
Voltei a pensar em você
com leveza e deixei de te esperar voltar. Te guardei na prateleira
dos melhores sonhos, comprei outros livros e me enchi de obrigações.
Carreguei fardos leves, pesados e de todo tamanho. Dormi cedo, dormi
tarde. Acordei alegre, acordei preocupado, mas segui em frente.
Não tenho porque te
contar tudo isso agora, então se mantenha nos meus ombros, me
deixando ser o que você quiser. Porque hoje a anoite fez um frio
tremendo, mas eu não vou lhe perguntar de onde veio e se pretende ir
novamente embora, só fique nos meus ombros. Só se sinta bem neles.
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