domingo, 27 de janeiro de 2013

A chuva.

Não faz sentido trocar todo universo por um quarto escuro! Olhe toda essa imensidão!
Dizia ele em voz baixa, tentando se convencer de que seria simples, seria só aceitar esta ideia e seguir. Mas não era tão fácil assim!
Havia andado léguas e mais léguas de pés descalços, um tanto cabalante, tinha se sentado ali onde via a chuva cair lentamente sobre todas as paisagens que um dia desvendara. Como se aquela chuva lavasse todas aquelas coisas que pareciam sujinhas no caminho, sujinhas como um choro descontente, sem remédio, sem consolo.
Se sentiu forte no auge de sua fraqueza, se sentiu fraco no auge de sua força. Trançou as pernas assim que se levantou, quase não aguentou o peso da própria alma, deu alguns passos e assim, como se um impulsionasse o outro foi caminhando, caminhando até correr.
Não escondia o medo que carregava nos olhos, sempre teria aquele medo, mas sempre seria inconsequente demais quando alguém o fazia o vencer outra e outra vez. Por isso carregara muitas paixões carnais e momentâneas e poucos, tão poucos amores.
Acordava todas as manhãs já disperso, lavava o rosto e via no espelho aquele sorriso maldito, era seu maior dom, era também seu pior castigo. Trazia as pessoas na mesma velocidade que as levara, era como se todos temessem ao mesmo tempo em que se sentiriam acolhidos.
Não me velha com esse papo a essas horas menino, eu não sei o que fazer com todas essas suas coisas, eu não sei lidar nem com as minhas. Se ajeite aí, em qualquer lugar, hoje eu não estou com um pingo de paciência pra você. Hoje eu não tenho sequer paciência comigo, quem dirá com você.
A chuva ainda cai lentamente sobre todas essas paisagens, e hoje, só por hoje eu queria caminhar pela chuva, sentir enquanto ela lava a minha alma, já que estou tão alheio. E se nada é capaz de me fazer sentir, que eu sinta a chuva correr pelo meu rosto, como se fossem lágrimas que hoje eu sou incapaz de chorar

Nenhum comentário:

Postar um comentário