Não faz sentido trocar
todo universo por um quarto escuro! Olhe toda essa imensidão!
Dizia ele em voz baixa,
tentando se convencer de que seria simples, seria só aceitar esta
ideia e seguir. Mas não era tão fácil assim!
Havia andado léguas e
mais léguas de pés descalços, um tanto cabalante, tinha se sentado
ali onde via a chuva cair lentamente sobre todas as paisagens que um
dia desvendara. Como se aquela chuva lavasse todas aquelas coisas que
pareciam sujinhas no caminho, sujinhas como um choro descontente, sem
remédio, sem consolo.
Se sentiu forte no auge
de sua fraqueza, se sentiu fraco no auge de sua força. Trançou as
pernas assim que se levantou, quase não aguentou o peso da própria
alma, deu alguns passos e assim, como se um impulsionasse o outro foi
caminhando, caminhando até correr.
Não escondia o medo
que carregava nos olhos, sempre teria aquele medo, mas sempre seria
inconsequente demais quando alguém o fazia o vencer outra e outra
vez. Por isso carregara muitas paixões carnais e momentâneas e
poucos, tão poucos amores.
Acordava todas as
manhãs já disperso, lavava o rosto e via no espelho aquele sorriso
maldito, era seu maior dom, era também seu pior castigo. Trazia as
pessoas na mesma velocidade que as levara, era como se todos temessem
ao mesmo tempo em que se sentiriam acolhidos.
Não me velha com esse
papo a essas horas menino, eu não sei o que fazer com todas essas
suas coisas, eu não sei lidar nem com as minhas. Se ajeite aí, em
qualquer lugar, hoje eu não estou com um pingo de paciência pra
você. Hoje eu não tenho sequer paciência comigo, quem dirá com
você.
A chuva ainda cai
lentamente sobre todas essas paisagens, e hoje, só por hoje eu
queria caminhar pela chuva, sentir enquanto ela lava a minha alma, já
que estou tão alheio. E se nada é capaz de me fazer sentir, que eu
sinta a chuva correr pelo meu rosto, como se fossem lágrimas que
hoje eu sou incapaz de chorar
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