São só os dias
passando rápido demais, são só tufões, maremotos e calmarias. É
um cigarro aceso no cinzeiro, e outro e outro.
Eu estou calmo, caro
amigo. Veja, até escrevi outra canção, troquei a cor da minha
alma, levei o cachorro pra passear. Eu até ando fazendo planos,
colecionando sorrisos, eu até ando mais sereno.
Eu até parei de ouvir
a maioria daquelas canções tristes, abri a janela, dormi tranquilo.
Eu até passei uns dias sem ler poemas chorosos.
Pichei nas paredes da
minha alma em cores marcantes “ Os ares desta estação hão de me
entender e perdoar os meus deslizes.” Fui mais tolerante comigo
mesmo e parei de procurar em mim mesmo mil defeitos.
Passei horas falando
com um amigo sobre coisas aleatórias, tinha a ver com cores,
mitologia, jogos e livros, não sei bem ao certo. Só me lembro que
renderam gargalhadas e tranquilidade.
Me lembrei de alguns
corações que roubei, me lembrei de quando gostava de roubar
corações. Me achei tão bobo, descobri o quanto cresci.
Tão gentil, o tempo
que antes me esmagava, hoje me fez companhia, também conversei com
ele, sobre presentes e presente. Não quis falar sobre passado ele
não quis falar sobre futuro, nós nos repeitamos.
Peguei aquele velho
canivete do meu pai em algum canto da casa, me lembrei do seu sorriso
cúmplice, quis voltar ao colo dele quando criança e pedir que
descascasse algumas laranjas, e depois montasse alguma coisa comigo,
não sei, cabanas, trolinhos, pipas, sonhos.
Pensei nos meus filhos,
aqueles que eu quero um dia e guardei o canivete. Quem sabe eles
queiram descascar laranjas, montar cabanas, trolinhos, pipas e sonhos.
Trabalhei um pouco,
sorri um pouco, cantei um pouco, vivi o dia. E amanhã, quando meus
olhos se abrirem eu voltarei a buscar essa paz que a cada dia se faz
mais presente.
É amigo, os dias vem
passando rápido demais e por isto eu tenho que fazer bom proveito da
presente calmaria.
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