domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mais.




Dentro do seu próprio silêncio ele não se sentia mais tão agoniado, abriu a geladeira, bebeu água e se dirigiu ao quarto, ligou a tevê e pensou em mil coisas do seu dia, coisas corriqueiras. Se lembrou de alguns amigos, e ligou pra um deles, falou sobre coisas do seu dia, ouviu coisas sobre o dia do tal amigo, lavou o rosto, escovou os dentes e por fim dormiu tranquilo.
Em algum lugar ele poderia ter deixado aquela angustia, não sabia exatamente onde e nem queria saber. De peito leve, suspirou os últimos pensamentos do dia, aqueles que o conduziria aos sonhos, sonhou com uma velha paixão, daquelas que não falava há muito tempo, daquelas que já foram silênciadas inúmeras vezes por outras paixões, mas que vinha lhe lembrar de sua existência. Porque viria a se lembrar dela? Acordou com a mesma leveza que dormiu, embora tenha acordado com vontade de saber dela. Por onde andará aquela mulher?
Não o deixava dolorido lembrar de todas as coisas de sua vida, não pesava mais nem a dor mais recente, porque doeriam outras? Mas era importante pra ele que todas aquelas pessoas estivessem bem, naquele dia em especial ela, ela que tinha voltado a habitar os sonhos depois de tanto tempo.
Ah mulher! Já fostes a maior inspiração deste poeta que vos fala, e sabes disto, e eu sei que sempre lhe acolheu isto. É, eu sei. Sei do prazer que lhe traziam as minhas linhas tortas e meus dizeres tão seus. Hoje venho a falar novamente de ti, para que se sinta novamente acolhida, nem que seja só por hoje.
O tempo veio e me levou com ele, eu me tornei um outro desses poetas noturnos, bonitos por dentro, despenteados por fora, tão vivo, tão vivo, que a carne quase pulsa aparente, mas que depois que deixa a pena sobre a folha volta a ser o menino tranquilo que nem existia mais.
De mãos vazias, ele não quer uma nova paixão nesta noite, e nem quer que o amor lhe abrigue o peito, quer apenas chegar em casa outra vez no fim do dia e sorrir para aquela paz, aquela que é tão sua que lhe permite relembrar, lembrar. Olhar pra trás, sem deixar de seguir, seguir sem carregar dores no peito.

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