Não sou desses meninos
aí, que você vê pelas ruas, contando os dados e fazendo cálculos
pra saber se podem realmente contar com a sorte. Eu faço as minhas
próprias apostas, mesmo que tão calado vez ou outra, eu sou o dono
da minha própria sorte.
Já não quero mais
dizer por onde andei, não interessam essas coisas que não deram
certo, já me preencheram as que deram. Hoje eu acordei e olhei
adiante.
Andei com os maços nos
bolsos, alguns! Um com cigarros, outros com atitudes, outros com mais
um monte de coisas que eu ainda quero levar.
Não me preocupei em
amarrar os sapatos, quando eu me cansar de olhar para eles assim,
desamarrados eu faço isso. Agora não.
Meu perfeccionismo, por
diversas vezes me impossibilitou de sorrir, minha ingenuidade em
outras vezes não me deixou enxergar alguns defeitos. Hoje eu aprendi
a dar valor exato as coisas. Deixe o tênis desamarrado, mas não
deixe o nó do peito pra depois.
Mesmo que essa dor
possa ser maquiada, não faça isso. Mais fácil que você tropece
nela que nos cadarços, eu garanto.
Ah, e tem mais uma
coisa. Eu não ando mais procurando por algo que não depende de mim,
esqueça isso! Eu venho procurando pelo que posso tocar, e se eu não
posso ao menos sentir o calor, eu me despeço e vou embora. Pela
porta da frente, sim, pela porta da frente!
Eu vi um brilho
diferente nos meus olhos quando acordei, parecia luz, sim! Era luz!
Esses dias de março
vem trazendo manhãs tão cheias daquela neblina da qual eu senti
tanta falta. Eu acordo tão mais frio por fora, quente por dentro,
bonito de se olhar.
Olhe só, eu não
preciso de muito, mas não me contento com tão pouco. Eu não sou
mais o mesmo menino de ontem, eu não sou nem tão menino assim.
Ah! Essa minha palidez?
Não veja como ruim, não é bem assim. É que eu me escondo do sol,
mas saiba, eu ainda sou mais quente por dentro do que jamais fui! Só
não gosto do sol me queimando a pele me despreocupando do calor que
eu tenho que me preocupar em manter.
Segure as minhas mãos
frias nesta noite pós chuva, nesta noite em que o centro do sudeste
começa a ter sua temperatura comum, segure as minhas mãos. Só não
ouse tocar o coração, ele é bem mais quente do que você pode
suportar.
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