Relapso o poeta se perdeu nos afazeres diários, já que não
vive só de poesia. Colocou o café quente
sobre a mesa e voltou a buscar nos livros alguma sabedoria.
Era encantador vez ou outra e sabia exatamente como chegar
ao coração de uma mulher, mas não sabia como manter o encanto. Fazia tanto
alarde na entrada que aos poucos se apagava, causava grandes impressões e por
isso não sabia exatamente como ficar quando percebiam que ele era simplesmente
outro ser humano normal. Como todos os outros.
O menino tinha vontade de ter outra vez tardes tranquilas,
coração calmo, pés com pés num fim de tarde fria. O menino andava com as mãos
nos bolsos do paletó, às vezes trançando as pernas e contando os passos, dirigia
às vezes com pressa, angustiado. Dirigia às vezes devagar, minucioso.
Tinha um desejo incontrolável por lábios e pernas, seios e
trejeitos de mulher. Mas no fundo gostaria de se apaixonar por apenas uma
dessas mulheres e com ela permanecer, trocar os segredos mais íntimos, sorrir
por nada. Ser só menino, sem alardes, sem grandes impressões. Ser apenas ele
mesmo.
Mas era estrela cadente, chamaria a atenção por alguns segundos,
causaria grandes paixões, confusão, e deixaria de ser o centro das atenções pra
se tornar nada e mais uma vez impressionar uma outra mulher. Isso já não o
satisfazia mais, mas era tudo o que ele tinha. Era o que sabia fazer de melhor.
Não me olhe assim menina, não ouse se apaixonar por mim se
não pretender me amar! O velho coração do poeta que às vezes é tão menino, já
se cansou dessa brincadeira. O coração do jovem poeta que às vezes é tão velho
já conhece todos esses jogos e sentimentos, e não se diverte mais tanto assim
com essas coisas tão mal situadas.
Mas mesmo assim, ele ainda não descobriu como deixar de ser
estrela cadente.
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