quinta-feira, 25 de julho de 2013

Entrelinhas.





A eternidade das palavras não ditas é a mais cruel de todas. A pena sobre a mesa, o tinteiro em pedaços, somente o borrão negro sobre a folha de papel, eu deixei muita coisa sem escrever me sufocando naquela noite de inverno.
A eternidade das palavras que eu não escrevi me perseguiram, assim como perseguem os poetas as palavras, assim como perseguem os músicos a canção. Eu era mais um menino normal, gravata mal amarrada, sapatos pretos e bem lustrados, eu era só mais um menino de chapéu. Eu era um menino poeta que morreu sufocado com as próprias palavras, diante do papel borrado, segurando a pena. Sentindo pena de si mesmo.
Eu era o homem das meias palavras, carregando um coração apertado no peito. Trancado na casa amaldiçoada dos sonhos que não realizei. Escrevendo sobre histórias de amor que jamais existiriam. Eu era o homem das entrelinhas, dos entrelaços, dos entreabraços, dos entrebeijos, das palavras inventadas que jamais foram reais.
Desci as escadas do casarão, coloquei o chapéu e parti. Escrevi sobre o meu mundo em preto e branco, ainda levado pela sede, pelo frio, pelas minhas reclamações imbecis.
Eu sou o poeta do avesso, das palavras não ditas. Eu sou o poeta dos traços mal feitos, que jamais seriam poesia caso pudessem. Eu sou um crente cético, o músico surdo, o poeta cego que joga as palavras ao vento e nunca mais as encontra. Nesta noite eu sou eu mesmo em todos os eus que um dia fui, criando palavras, inventando sentimentos.
Eu sou o dito final, e ao mesmo tempo tudo o que eu não disse. Eu sou a sombra do meu próprio pesar, eu sou o sorriso do meu maior amor.

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