A eternidade das palavras não ditas é a mais cruel de todas.
A pena sobre a mesa, o tinteiro em pedaços, somente o borrão negro sobre a
folha de papel, eu deixei muita coisa sem escrever me sufocando naquela noite
de inverno.
A eternidade das palavras que eu não escrevi me perseguiram,
assim como perseguem os poetas as palavras, assim como perseguem os músicos a
canção. Eu era mais um menino normal, gravata mal amarrada, sapatos pretos e
bem lustrados, eu era só mais um menino de chapéu. Eu era um menino poeta que
morreu sufocado com as próprias palavras, diante do papel borrado, segurando a
pena. Sentindo pena de si mesmo.
Eu era o homem das meias palavras, carregando um coração
apertado no peito. Trancado na casa amaldiçoada dos sonhos que não realizei. Escrevendo
sobre histórias de amor que jamais existiriam. Eu era o homem das entrelinhas,
dos entrelaços, dos entreabraços, dos entrebeijos, das palavras inventadas que
jamais foram reais.
Desci as escadas do casarão, coloquei o chapéu e parti. Escrevi
sobre o meu mundo em preto e branco, ainda levado pela sede, pelo frio, pelas
minhas reclamações imbecis.
Eu sou o poeta do avesso, das palavras não ditas. Eu sou o
poeta dos traços mal feitos, que jamais seriam poesia caso pudessem. Eu sou um
crente cético, o músico surdo, o poeta cego que joga as palavras ao vento e
nunca mais as encontra. Nesta noite eu sou eu mesmo em todos os eus que um dia
fui, criando palavras, inventando sentimentos.
Eu sou o dito final, e ao mesmo tempo tudo o que eu não
disse. Eu sou a sombra do meu próprio pesar, eu sou o sorriso do meu maior
amor.
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