segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Agenda de oitenta e seis.





Choveu a  noite toda e eu observei cada gota que caia do céu daquela noite.
Quantas tempestades ainda me restarão? Quantas vezes eu ainda vou seguir, seguir sendo forte, olhando pra frente, sorrindo o velho sorriso maldito?
Quantas vezes ainda vou fazer as malas, olhar adiante e seguir?
Algumas paixões mal durarão até o amanhecer, serão só beijos ardentes em meio a noite de neon, sob efeito do álcool, sob a prevalência dos extintos, dos poros, da pele.
Algumas ainda vão tentar convencer que são amor , ficarão pro café da manhã, colocarão a mesa, mas não voltarão para o jantar. E eu vou seguir em frente, esquecer em  noites de neon, ao som de outra dessas paixões que mal se convencem, mal se garantem.
-O teu maior inimigo há de ser o ego! Já dizia aquele meu coração de artista, de poeta, de “escrevedor”.  – O teu maior defeito há de ser a vaidade que essa alma de poeta há de trazer!
Muitas vezes sim, era só vaidade! Era só o prazer de sentir o mundo dentro dos olhos de uma pequena, ver aquele brilho se fundir até a explosão. Era só o prazer  de ser admirado.
Em outras era sim paixão, e foram nessas que eu me perdi, enlouqueci e escrevi as mais belas linhas, sorrindo, chorando, sangrando! Essas foram poucas, mas intensas. Renderiam livros caso eu tivesse a intenção de escrever um.
Eu sou um poeta vulgar, desses de porta de bar, que escrevem em qualquer pedaço de papel. Escrevem vivendo, vivem escrevendo.  Jamais serão formais esses poetas! Jamais escreverão livros, jamais serão imortais, já que mal conseguem lidar com o tempo desta passagem.
Eu sou o poeta dos amores vulgares quaisquer! Do beijo apressado, e a despedida mal formulada, cheia de até logos, dizendo adeus com os olhos. Pra logo ali na frente encontrar um outro beijo e continuar a escrever poesia sobre essas pernas que passam, esses olhos que sugam a gente.  E fazer de várias dessas mulheres inspiração pra outro poema vago.
Era uma vez um menino poeta que jamais teria um outro amor  de verdade, a não ser aquele primeiro, aquele que o ensinou o pouco que precisava saber. Era uma vez um menino poeta que andou sob a chuva, sob o céu de setembro e viu nascer outubro com aquela certeza no coração:  -  Daqui a pouco surge outra paixão pra preencher aquelas folhas que ainda restam em branco , naquela velha agenda de oitenta e seis.

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