Eu
não sou o menino das histórias perfeitas que você insiste em
contar. Não sou o mocinho, muito menos o herói, mas eu sei ser um
bom menino. Juro!
Sei
que às vezes soa cansativo o meu papo de bom rapaz, os lamentos, as
perseguições. Eu também sou o menino cheio de defeitos, mau, de
algumas histórias.
Aposto
que você jamais amaria o mocinho, ele não te daria o desgosto de se
sentir abalada, muito menos o prazer do beijo ardente da
reconciliação. Não é que eu não queira ser o bom menino, é que
o bom menino, integralmente bom, não existe!
Eu
tive um sonho nesta noite, acordei desesperado e não consegui mais
dormir. No meu sonho eu andava entre as chamas, nenhuma delas me
tocava, e no fim disso tudo eu conseguia ver uma bela mulher, mas era
como se aquela beleza fosse irreal e eu não conseguisse distinguir
quem eu via.
Embora
eu caminhasse era impossível chegar até ela, até que as chamas
passaram a me consumir. Neste instante eu acordei.
Ainda
sinto em mim aquelas chamas, sinto também o desejo de tocar aquele
rosto que de certa forma eu não identificava.
Eu
sou o menino mau das histórias monótonas, eu sou o bom menino dos
dias ruins. Acordei disposto a abrir o chuveiro e lavar a alma, mas
mal me reconheci no espelho, senti falta de mim mesmo!
Eu
mudei tanto, me tornei mais um desses garotos dispostos a tudo para
sorrir, não sei se sou pior por isso.
Acabei
por perder às vezes a noção de quem eu sou, mas estou mais vivo.
Veja esse brilho quase que irracional nos meus olhos!
Eu sou um louco, uma bárbaro, um rude. Eu sou um lord, um sábio, um
poeta. Mais uma vez eu sou o poeta, mesmo quando não uso meus
lamentos vãos.
Quem
sabe eu tenha dito um monte de besteira por aí, afetado pelo meu
próprio ego, pelo álcool, pela noite. Quem sabe eu só tenha sido
menino, como todos os outros.
Eu
sou aquilo que o espelho insiste em mostrar, mas também sou o que
ninguém vê. O sorriso no espelho, as lágrimas no travesseiro, a
paz que sempre chega depois do temporal. Eu sou como você, e você
sabe que não é perfeito. Não é?
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