sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Madrugada.




Poderia ser um dia comum, os olhos rasos, a solidão de sempre, caso ela não fosse parte dos meus sonhos. Eu andei por aí procurando explicação, mas as galaxias me disseram, cheias de letras garrafais que aquilo jamais havia me acontecido antes. Então parei pra olhá-la.
É outra noite de dezembro, não mais uma noite de dezembro, porque hoje eu espero por ela, no portão, feito criança no natal esperando o presente que esperou o ano todo, com aquele dia na cabeça, sem poder deixar de percebê-lo.
Eu senti medo, eu senti euforia, eu a senti sem ao menos tocá-la. Enfim, seria outra tarde de dezembro, dia banal, ano terminado em treze, azar na certa! Mas não, não era bem assim, eu a encontrei, sorri aquele sorriso que já não era mais tão maldito, atravessei a barreira dos meus sonhos e parei, parei pra contemplar o que ela tinha pra mim.
Era uma menina, olhos de descoberta, docilidade ainda não destruída pelos dias, era uma mulher, pulso forte, palavras bem ditas, benditas, minhas. Na verdade eu que era dela. Dois passos do olho do furação de emoções.
Eu tinha sei lá, vinte e tantos anos, tantos anos que me faziam me sentir velho, alguns fios de cabelo branco, café quente no amanhecer, palavras de um metódico, pesquisador das leis. Eu não sabia nada sobre o amor dela. Mas queria descobrir.
Eu tinha amigos de todos os tipos, velhos, jovens, brancos, negros, felizes, ásperos. Eu era tão do mundo, mas me sentia tão dela desde que a encontrei.
Eu tenho um medo, guardado a sete chaves, no canto da sala, escondido pra ninguém ver. O medo de que seja só um sonho bom. Medo de acordar,em uma tarde de agosto. Agosto sempre me traz maus presságios, previsão de desastres, deslizes. Mas era dezembro!
Era dezembro e se anunciavam boas novas, ano novo, aquela coisa de acreditar que tudo pode ser diferente. Desta vez eu acreditava, só por ela eu acreditava que tudo poderia mudar.
Olhei para o dia amanhecendo pela janela, sabia que daqui a pouco ela acordaria, se arrumaria para o trabalho, pensaria em mim antes de começar a viver outro dia. Na verdade eu perdi o sono e quis falar com ela a noite toda.
Logo eu, cheio de manias, independente, menino esperto. Esperto nada, eu era o que ela quisesse, eu era parte dela, como um membro, um tecido, um órgão. Eu era dela e não tinha utilidade nenhuma fora dela. Eu morreria caso aquele sangue não me alimentasse. Soava estranho, mas não era.
Mastiguei o ego, e deformei minhas antiguidades. Coloquei pra fora o lixo e deixei a casa limpinha pra ela morar. Pixei nas paredes o meu amor!

Esperei por ela como criança no dia do aniversário, presente certo, hora exata. Ansioso, não consegui dormir!

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