Poderia ser um dia
comum, os olhos rasos, a solidão de sempre, caso ela não fosse
parte dos meus sonhos. Eu andei por aí procurando explicação, mas
as galaxias me disseram, cheias de letras garrafais que aquilo jamais
havia me acontecido antes. Então parei pra olhá-la.
É outra noite de
dezembro, não mais uma noite de dezembro, porque hoje eu espero por
ela, no portão, feito criança no natal esperando o presente que
esperou o ano todo, com aquele dia na cabeça, sem poder deixar de
percebê-lo.
Eu senti medo, eu senti
euforia, eu a senti sem ao menos tocá-la. Enfim, seria outra tarde
de dezembro, dia banal, ano terminado em treze, azar na certa! Mas
não, não era bem assim, eu a encontrei, sorri aquele sorriso que já
não era mais tão maldito, atravessei a barreira dos meus sonhos e
parei, parei pra contemplar o que ela tinha pra mim.
Era uma menina, olhos
de descoberta, docilidade ainda não destruída pelos dias, era uma
mulher, pulso forte, palavras bem ditas, benditas, minhas. Na verdade
eu que era dela. Dois passos do olho do furação de emoções.
Eu tinha sei lá, vinte
e tantos anos, tantos anos que me faziam me sentir velho, alguns fios
de cabelo branco, café quente no amanhecer, palavras de um metódico,
pesquisador das leis. Eu não sabia nada sobre o amor dela. Mas
queria descobrir.
Eu tinha amigos de
todos os tipos, velhos, jovens, brancos, negros, felizes, ásperos.
Eu era tão do mundo, mas me sentia tão dela desde que a encontrei.
Eu tenho um medo,
guardado a sete chaves, no canto da sala, escondido pra ninguém ver.
O medo de que seja só um sonho bom. Medo de acordar,em uma tarde de
agosto. Agosto sempre me traz maus presságios, previsão de
desastres, deslizes. Mas era dezembro!
Era dezembro e se
anunciavam boas novas, ano novo, aquela coisa de acreditar que tudo
pode ser diferente. Desta vez eu acreditava, só por ela eu acreditava
que tudo poderia mudar.
Olhei para o dia
amanhecendo pela janela, sabia que daqui a pouco ela acordaria, se
arrumaria para o trabalho, pensaria em mim antes de começar a viver
outro dia. Na verdade eu perdi o sono e quis falar com ela a noite
toda.
Logo eu, cheio de
manias, independente, menino esperto. Esperto nada, eu era o que ela
quisesse, eu era parte dela, como um membro, um tecido, um órgão.
Eu era dela e não tinha utilidade nenhuma fora dela. Eu morreria
caso aquele sangue não me alimentasse. Soava estranho, mas não era.
Mastiguei o ego, e
deformei minhas antiguidades. Coloquei pra fora o lixo e deixei a
casa limpinha pra ela morar. Pixei nas paredes o meu amor!
Esperei por ela como
criança no dia do aniversário, presente certo, hora exata. Ansioso,
não consegui dormir!
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