-Tem alguém aí?
Me perguntei por
diversas vezes circulando aquele pedaço de mim mesmo, ouvindo o eco
da minha própria voz, choramingando alguma coisa que eu não sei o
que era.
Talvez eu seja mesmo o
menino das letras mal rabiscadas no papel, mesmo que não me traga
nada a mais que vontade de chorar.
Na verdade eu queria um
amor, um dia de sol – sem calor - somente de luz, um dia em algum
lugar frio iluminado pelo sol. Cachecol, suéter, tênis, quem sabe
luvas e o colo de um amor.
Ela não precisava ser
perfeita, poderia ser assim como eu, cheia de remendos, com um
sorriso nos lábios, intensa porém surrada. Eu não ligo, seria pior
alguém sem marcas, seria pior quem não conhecesse o próprio
coração.
Me lembrei de alguém e
me reneguei, não quis mais pensar em quem evita estar na minha
vivencia, mas enfim, pensei e nada muda isso. Me senti tolo, chacoalhei a cabeça mais uma vez.
Eu sou o
menino tolo, que se senta na frente do computador corriqueiramente
cheio de palavras que não pode suportar, e por isso as derrama.
Queria eu
um dia frio, viagens, destinos, chegadas e partidas. Mas eu era
partido, em tantos pedaços que mal poderia calcular. Talvez nem
merecesse mesmo todas essas coisas.
Pensei no
que vestir amanhã, caso eu acordasse disposto. Me senti ridículo
tentando encher minha cabeça de tais coisas, eu nunca penso no que
vestir amanhã. Sempre decido na hora, de cabelos molhados segurando
a caneca de café, tentando fechar o roupão que sempre abre outra
vez.
Eu sou o
menino atrapalhado, com olhos de criança, desenhos coloridos nos
braços e nas pernas, cabelo despenteado, por descaso proposital. Não
pareço interessante.Nem sou!
Ocupo a
noite com alguns goles, alguns tragos, alguns beijos. Algumas transas
vez em quando, só pra não esquecer como é, ou pra esquecer como
poderia ser. Ainda não sei.
Pensei um
pouco no que deixei pra trás, mas voltei a perguntar ao pedaço de
carne viva sobre a mesa: - Tem alguém aí?
Não
respondi a mim mesmo, por dor, preguiça ou descaso. Não sei bem ao
certo.
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