Éramos apenas projetos
do que queríamos ser, protótipos, plano B, versão Beta. Um amontoado
de células e sentimentos. Éramos o começo de tudo e ainda assim
queríamos fazer história, escrever sobre o que sentimos, pensamos,
queremos. Aprendemos a nos amar, de formas diferentes, cada um de
nós. Aprendemos também uma série de outros sentimentos não tão
nobres, não tão grandes, não tão sábios.
Nós queríamos mudar o
mundo, não queríamos mudar o que havia dentro de nós e começamos
errado, continuamos errando, mas o melhor de tudo ainda estava em
nós. O desejo de fazer certo.
Ainda eramos os mesmos
de sempre, só mudaram os desejos, as responsabilidades e as manias –
algumas nem mudaram, mas nós, iludidos sempre pensamos que sim -
caminhei até o lugar que me trazia proteção, mas desta vez as
janelas estavam abertas, eu estava aberto, exposto – desta vez eu
sabia quem era, e isto era o que mais me assustava – e tinha muitos
medos.
Eu tinha medo das
ondas, mas não do mar, eu tinha medo do céu, mas não da noite que
nele pairava naquela noite de março, era março outra vez. Por mim
poderia ser diferente, eu não gosto da forma como o mundo conta o
tempo, na verdade eu não sei muito do que gosto. Talvez eu só goste
daqueles olhos que sempre me vem a mente quando me ponho a escrever,
talvez eu goste de mais algumas coisas, mas elas não tem tanta
importância quanto aqueles olhos.
Eu caminhei até mim
mesmo, sem saber ao certo onde ia, eu caminhei em torno nos meus
sonhos que eram um quebra cabeça, desses, de milhões de peças. Eu
não sabia por onde começar mas sabia que começaria por algum
lugar.
Eu gostava de ser
menino, mas era hora de crescer. Eu ainda escrevo assim, confuso como
aquele menino, talvez eu ainda seja muito confuso nos meus dizeres.
Eu me lembrei de tudo o
que me trouxe aqui, eu li muitas das páginas da minha vida, sorri e
chorei, me senti bem por estar aqui, mas não senti bem por muita
coisa que fiz. Me lembrei daquele menino triste, aquele que morava
nessas páginas, eu não sei, mas acho que havia mais charme nele que
em mim, talvez eu seja o que restou.
E o que restou é mais
vivo, mais sensato, menos cruel. Eu não sei bem o que restou, mas
ainda é bom ter restado algo, e no fim das contas é sempre assim,
algumas palavras avulsas, fim de noite, vontade de fazer tudo dar
certo. E isto continua sendo bom.
Esta noite eu pensei em
caminhar um pouco, andar por aí e rever lugares, na minha mente
alguns deles eram tão remotos e nostálgicos, mas eu preferi ficar
no meu quarto de janelas abertas olhando a luz de algum lugar, porque
assim, de longe eu enxergo melhor. Assim de dentro eu entendo melhor,
assim de perto eu vivo melhor.
Não se julgue, não me
julgue, não tente entender minhas entrelinhas, se hoje eu fiz um
texto só delas é porque no fundo eu queria me expor mas queria que
ninguém, ou quase ninguém entendesse. Não me julgue por isto, eu
não ando me julgando e na verdade eu sei ser bem mais critico comigo
mesmo do que qualquer um. Não duvide disto.
A minha balança de
pesos e contra pesos não anda se acertando, mas eu ainda sei muito
bem quem sou, o quanto ainda consigo ser forte e o quanto ainda me
mantenho frágil. Eu sou o mesmo menino de sempre, mas agora eu ando
tentando crescer, e anda sendo difícil, caro amigo. No meu mundo não
existem métodos que garantam que eu consiga, no meu mundo não
existem garantias de que dará certo, mas de uma forma ou de outra eu
chegarei onde desejo, quem disse que um menino não pode ter tudo o
que quer?
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