terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Saudade "docê"

Tem hora que eu penso no cê, João, meio sem jeito andando pela vida! Mas a maioria do tempo eu ando ocupado, preocupado, inconsolado com seus passos. Desculpe me prender assim em demasia ao seu desajeito, mas eu não penso em outra coisa.
Cê tem um jeito tão errado de ser certo, perde a hora e se desacerta, mas sei que anda em dia com seu coração. Eu sei bem como é esse negócio!
Ontem eu me lembrei da gente, eu e você, dois bobos andando pela corda bamba da vida, eu era você e você era eu, João! E eu fiz as mesmas escolhas tolas que você! Eu sempre agi desse teu jeito e te entendo.
Os teus amores foram grandes batalhas né? Era você com você mesmo tentando provar que poderia amar mais um pouco antes do último gole e então a festa acabava, as luzes se acendiam e não havia mais plateia pro teu show! Era sempre assim sofrível, tinha que ser pra você chamar de amor!
Primeiro vinha o preludio, e era sempre uma canção doce, depois sempre ia intercalando entre as mais leves e as mais pesadas, com algumas pitadas de masoquismo desnecessário, sempre assim, dois versos e um refrão, sempre em notas menores para demonstrar que era solitário o teu sentir.
Aquelas mulheres que amamos nunca entenderão, João! Nunca entenderão que nossa última canção em dó menor era sempre nossa libertação.
Olha só quanto tempo se passou! Nós fomos aprendendo tanta coisa, mas nunca a amar, talvez porque achássemos que eramos bons nisso. Elas só quiseram de nós a euforia de fazer parte das linhas que escrevemos, só gostavam mesmo de ser canção, texto, arte. De nós, João, só queriam a carne, e essa tão fraca sempre cedeu aos caprichos delas. A gente sabe bem como demonstrar sutileza nos feitos mais inusitados, a gente sabe bem demonstrar força nos feitos mais sutis, mas olha só meu irmão, onde a gente se enfiou!
Você sabe que eu entendo bem, eu também não sei demonstrar interesse por nada, por mais que eu queira, eu também não sei pedir as coisas pra ninguém. Tudo o que eu tenho foi roubado ou conquistado, ganhar pra gente é meio esquisito, a gente não sabe de onde vem esses gestos sem motivação. Mas nos doamos sempre, por inteiro e sem motivo. Vai entender!
E se não for para causar estrago, que não batam em nossa porta! Sempre foi assim, não? Aquelas coisas mornas nunca nos tocaram, nós nunca as deixamos nos tocar.
É isso mesmo, meu amigo, me bateu uma saudade “docê” , me bateu uma preocupação contigo, então olhei pra mim e sorri, sabendo que nós sempre seremos um só. E eu não sei falar de mim sem sorrir pra ti, no espelho no banheiro afogado nesses olhos quase negros. Pois é, me cuide, meu amigo que eu cuido de você.

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