Tem hora que eu penso
no cê, João, meio sem jeito andando pela vida! Mas a maioria do
tempo eu ando ocupado, preocupado, inconsolado com seus passos.
Desculpe me prender assim em demasia ao seu desajeito, mas eu não
penso em outra coisa.
Cê tem um jeito tão
errado de ser certo, perde a hora e se desacerta, mas sei que anda em
dia com seu coração. Eu sei bem como é esse negócio!
Ontem eu me lembrei da
gente, eu e você, dois bobos andando pela corda bamba da vida, eu
era você e você era eu, João! E eu fiz as mesmas escolhas tolas
que você! Eu sempre agi desse teu jeito e te entendo.
Os teus amores foram
grandes batalhas né? Era você com você mesmo tentando provar que
poderia amar mais um pouco antes do último gole e então a festa
acabava, as luzes se acendiam e não havia mais plateia pro teu show!
Era sempre assim sofrível, tinha que ser pra você chamar de amor!
Primeiro vinha o
preludio, e era sempre uma canção doce, depois sempre ia
intercalando entre as mais leves e as mais pesadas, com algumas
pitadas de masoquismo desnecessário, sempre assim, dois versos e um
refrão, sempre em notas menores para demonstrar que era solitário o
teu sentir.
Aquelas mulheres que
amamos nunca entenderão, João! Nunca entenderão que nossa última
canção em dó menor era sempre nossa libertação.
Olha só quanto tempo
se passou! Nós fomos aprendendo tanta coisa, mas nunca a amar,
talvez porque achássemos que eramos bons nisso. Elas só quiseram de
nós a euforia de fazer parte das linhas que escrevemos, só gostavam
mesmo de ser canção, texto, arte. De nós, João, só queriam a
carne, e essa tão fraca sempre cedeu aos caprichos delas. A gente
sabe bem como demonstrar sutileza nos feitos mais inusitados, a gente
sabe bem demonstrar força nos feitos mais sutis, mas olha só meu
irmão, onde a gente se enfiou!
Você sabe que eu
entendo bem, eu também não sei demonstrar interesse por nada, por
mais que eu queira, eu também não sei pedir as coisas pra ninguém.
Tudo o que eu tenho foi roubado ou conquistado, ganhar pra gente é
meio esquisito, a gente não sabe de onde vem esses gestos sem
motivação. Mas nos doamos sempre, por inteiro e sem motivo. Vai
entender!
E se não for para
causar estrago, que não batam em nossa porta! Sempre foi assim, não?
Aquelas coisas mornas nunca nos tocaram, nós nunca as deixamos nos
tocar.
É isso mesmo, meu
amigo, me bateu uma saudade “docê” , me bateu uma preocupação
contigo, então olhei pra mim e sorri, sabendo que nós sempre
seremos um só. E eu não sei falar de mim sem sorrir pra ti, no
espelho no banheiro afogado nesses olhos quase negros. Pois é, me
cuide, meu amigo que eu cuido de você.
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