domingo, 10 de abril de 2016

Energia.

Chegou devagar, colocou as chaves da fechadura, quis fazer pouco barulho, segurou na maçaneta com firmeza, deu passos leves e acendeu as luzes. Colocou a mochila sobre a mesa, ligou a cafeteira e foi para o banho.
Não era tarde, não havia ninguém a ser acordado, ele simplesmente não fez barulho para não tirar aquele silêncio dentro de si mesmo, vinha agindo de forma tranquila porque precisava sorrir aquela calma que aqueles dias de abril vinham trazendo. Fazia calor o dia todo, mas quando a noite chegava aquele vento frio lhe mostrava o quanto ele andava em paz consigo mesmo.
Havia um sentimento no peito, mas ele andava se comportando como adulto desta vez, sem paranoias, sem cismas, sem pressas. Não havia a obrigação que acontecesse, só era necessário que ele soubesse lidar, e aquilo vinha fazendo bem.
Ele já havia sofrido demais, sabia que era feito pro amor, não pra agitação da febre corriqueira de outra daquelas histórias.
Pegou a caneta e passou a escrever:
“Cara dona dos meus sonhos, eu ando te assistindo daqui, você vem fazendo cada coisa – deu uma breve pausa e sorriu como quem se divertia das peripécias que ela fazia com a própria vida – e são tantas trapalhadas com seu coração. Mas eu venho te vendo crescer também. Você é só uma menina mas dia após dia vem se tornando mulher. Eu sei que estou no fim dessa linha, desse caminho, desses aprendizados. Eu espero por você. De um jeito ou de outro, pra vivermos juntos ou simplesmente sorrir esse amor amigo. Eu espero.”
Jogou fora aquele pedaço de papel, sorrindo e balançando a cabeça. Se sentiu tão livre mas tinha uma coisa diferente nos ombros agora, e não era peso, não era ruim. Talvez só fosse novo.
Vestiu as mesmas roupas de moleque, não penteou os cabelos que sempre estavam desarrumados e se olhou no espelho. Seus olhos brilhavam uma imensidão que não poderia ser vista do lado de fora, o sorriso largo agora era permanente, suas certezas tão leves, sem autoritarismo, sem obrigações. Ele tinha aprendido que pra ser adulto era só ser menino, era só ser leve, era só não cobrar nada de ninguém, nem do mundo, nem dos outros, nem dele mesmo. Era só seguir.
Se despiu de manias antigas, porque era necessário criar novas. Tomou aquele café ainda quente, abriu um novo livro e só foi dormir quando os óculos já iam escorregando pelo nariz e o livro deixou de fazer sentido. Quando o café deixou de fazer efeito.
Dormiu um sono tranquilo, cheio de sonhos. Porque dentro dele tudo era paz e ele amava estar amando o que sentia, o que vivia e aquilo que dele vibrava.

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