Chegou devagar, colocou
as chaves da fechadura, quis fazer pouco barulho, segurou na maçaneta
com firmeza, deu passos leves e acendeu as luzes. Colocou a mochila
sobre a mesa, ligou a cafeteira e foi para o banho.
Não era tarde, não
havia ninguém a ser acordado, ele simplesmente não fez barulho para
não tirar aquele silêncio dentro de si mesmo, vinha agindo de forma
tranquila porque precisava sorrir aquela calma que aqueles dias de
abril vinham trazendo. Fazia calor o dia todo, mas quando a noite
chegava aquele vento frio lhe mostrava o quanto ele andava em paz
consigo mesmo.
Havia um sentimento no
peito, mas ele andava se comportando como adulto desta vez, sem
paranoias, sem cismas, sem pressas. Não havia a obrigação que
acontecesse, só era necessário que ele soubesse lidar, e aquilo
vinha fazendo bem.
Ele já havia sofrido
demais, sabia que era feito pro amor, não pra agitação da febre
corriqueira de outra daquelas histórias.
Pegou a caneta e passou
a escrever:
“Cara dona dos meus
sonhos, eu ando te assistindo daqui, você vem fazendo cada coisa –
deu uma breve pausa e sorriu como quem se divertia das peripécias
que ela fazia com a própria vida – e são tantas trapalhadas com
seu coração. Mas eu venho te vendo crescer também. Você é só
uma menina mas dia após dia vem se tornando mulher. Eu sei que estou
no fim dessa linha, desse caminho, desses aprendizados. Eu espero por
você. De um jeito ou de outro, pra vivermos juntos ou simplesmente
sorrir esse amor amigo. Eu espero.”
Jogou fora aquele
pedaço de papel, sorrindo e balançando a cabeça. Se sentiu tão
livre mas tinha uma coisa diferente nos ombros agora, e não era
peso, não era ruim. Talvez só fosse novo.
Vestiu as mesmas roupas
de moleque, não penteou os cabelos que sempre estavam desarrumados e
se olhou no espelho. Seus olhos brilhavam uma imensidão que não
poderia ser vista do lado de fora, o sorriso largo agora era
permanente, suas certezas tão leves, sem autoritarismo, sem
obrigações. Ele tinha aprendido que pra ser adulto era só ser
menino, era só ser leve, era só não cobrar nada de ninguém, nem
do mundo, nem dos outros, nem dele mesmo. Era só seguir.
Se despiu de manias
antigas, porque era necessário criar novas. Tomou aquele café ainda
quente, abriu um novo livro e só foi dormir quando os óculos já
iam escorregando pelo nariz e o livro deixou de fazer sentido. Quando
o café deixou de fazer efeito.
Dormiu um sono
tranquilo, cheio de sonhos. Porque dentro dele tudo era paz e ele
amava estar amando o que sentia, o que vivia e aquilo que dele
vibrava.
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