terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Palavras e mais nada.

Não haviam razões para esperar o melhor, mesmo assim ele se levantou, vestiu-se, e se olhou no espelho. Aquele sorriso era só fachada para o que ele tinha por dentro.
Ele estava todo bagunçado naquela tarde de terça-feira, dia banal, traços trêmulos na folha de papel branca. Nada demais.
As noites eram frias enquanto os dias eram infernais, quentes e dolorosos. A dor nas noites frias eram mais suportáveis, ainda mais nos braços dela que acalmava todas todos os devaneios que passavam pela sua cabeça. Sonhos sangrentos, tempestades, pés descalços em plena segunda de madrugada. Nada mais poderia o assustar, ele já estava extremamente assustado.
Não era atoa. Ele era o menino complexo, estudioso das leis e amante dos poemas, mas vivia mais nos poemas que nas leis. Isso explica porque ele era tão sensível e tão pouco prático. Ou talvez isso fosse só seu ascendente em peixes. Depende no que você acredita.
Não havia lugar confortável pra ele, ele parecia sempre estar de partida. Malas prontas na porta, suéter e cachecol, como naqueles filmes onde o protagonista sempre parte e deixa todos partidos. Ele era partida e lágrima, ele mesmo era o caodjuvante e o personagem principal.
Não tinha muito que poderia ensinar, aqueles olhos aparentemente calmos não mostravam a metade das complexidades que ele guardava, na gaveta de canto, ao lado da escrivaninha em L, naquele quarto onde ele se criou, sonhou, chorou e amou.
Mesmo distante ele guardava pra si o que de mais intenso havia, não sabia ser amenidade, não sabia simplesmente deixar pra lá.

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