terça-feira, 13 de maio de 2025

Cemitério.

Não se condene aos afagos da própria sorte. Não ande tão devagar, mas também não viva correndo. Certo dia o coração para e tudo o que você um dia foi, ou pensou ser passa a não fazer diferença. Só seja quem você é, independente do que digam ou façam. 

Dia desses, caminhando entre as minhas pilhas de papel, poemas que eu escrevi e não quis ler. Entendi o que é um cemitério de sentimentos. Não queira estar em um desses. Mas aí, sem hesitar fui desamassando os papeis, e cada poema lido eu chorava. Cada pedaço de papel era um pedaço meu, só meu. E eles falavam sobre minha forma de amar. Papeis rabiscados, escritos e reescritos, meus ditos malditos estavam ali, me cercando. Às vezes com o cheiro forte de ferro que o sangue tem, outras com cheiro de flores, diversas flores. Algumas eram flores de funeral.

Descobri que entre os meus amassados haviam sentimentos inteiros, frases pensadas, coisas impulsivas ou até bem lá no fundo, um pouquinho de sanidade. Mas a maioria deles sangrava, sangrava que nem soldado ferido que tenta alcançar a trincheira, se esvaindo, se arrastando. 

Um pedaço de mim ainda era atração pelo sentir, e por isso eu sentia demais. E se não fosse assim, que não me dessem a pena e o papel. Que não se fizesse tempestade nos meus olhos, nas minhas linhas, nos meus dizeres. O menino poeta só queria um pedaço de papel para escrever, escrever e amassar, amassar e andar no seu cemitério de sentimentos. Tão vivos que não deixavam de sangrar.

Não condene seus amores a própria sorte, não condene a morte ou ao pesar. No fim é só isso mesmo, a folha de papel em branco sendo preenchida de palavras ditadas por um coração que quase arrebenta a pele de tanto pulsar. O teu maior amor há de chegar. E quem sabe nos braços dele, ou da própria solidão você esbarre consigo mesmo. Caminhando leve, no meio do cemitério de sentimentos que ali está. Quem sabe nesse dia, você consiga ao mesmo tempo rir e chorar. 

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