Parecia ter acordado de um porre, daqueles que a gente mal lembra dos acontecimentos. Tinha o corpo dormente e memória confusa, então se deitou novamente e esperou que a cabeça voltasse ao seu lugar.
Não entendia qual o tipo de encanto tinha o levado tão longe. Pela primeira vez ele não sabia. Mas sentia no estômago a necessidade da distância daqueles acontecimentos. Não faria bem revisitar aquela história, embora fosse tão recente.
Levantou tarde naquela manhã de inverno, sentia nas pernas o cansaço e no coração um vazio, que naquele dia fazia bem. Naquela manhã ele mesmo foi seu maior amor.
O menino se olhou no espelho e se reconheceu, cuidou da casa, fez o café e o jantar. Se sentou sozinho em frente a TV com uma paz que há tempos não o atingia. Seria ele capaz de viver sem amar? Ele estava bem, não sabia por quanto tempo.
Se conhecia, sabia que em algum momento algum sorriso, algum par de penas ou algum balançar de cabelos iam o fazer brilhar os olhos, sacudir a alma, alimentar os escritos. Mas hoje não.
Hoje o menino caminhou entre seus escritos mais absurdos, mas não se deixou sujar da sangue. Ele sentia cada palavra que um dia disse, mas não chorava nenhuma delas. Ele só carregava no rosto um sorriso tranquilo. Não era desamor, era respiro. Ele estava feliz.
A solidão o acompanhou de mãos dadas e olhou profundamente dentro de seus olhos escuros. Ele não teve medo dela. Ele apenas sorriu.
Malditos os dizeres de alguns poetas que só viram beleza nas tristezas que escreveram. Não é só delas que nascem as intensidades. Ele era a intensidade! Mas também sabia sorrir feliz ao final de cada ciclo, depois que o coração parava de doer.
Naquele dia o poeta sabia que tinha pegado o coração no bolso e colocado no em seu lugar, e naquela noite de inverno ele estava quentinho, abrigado no peito.
Acordou no meio da noite, sem susto. Pegou a caneta e o papel para falar sobre a solitude que chagava de mansinho e cuidava dele, sabendo que talvez ela nem dure. Afinal, ele era o menino poeta, e meninos poetas nasceram para amar.
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