quinta-feira, 9 de maio de 2024

Sempre foi amor.

 E todas as portas já haviam se fechado. As luzes se apagaram, a música tocava ao longe, não havia mais ninguém na sala de estar.

Ele lia os versos que um dia escreveu. Em outros dias já fora mais doce, mas nem sempre falou de amor. Ela havia sido diferente das outras, lhe ensinou sobre algumas leis do universo ( que ele hoje desacreditava), mas principalmente, lhe ensinou sobre a fragilidade disfarçada de força. Ela era a mulher mais frágil que ele um dia amou!

Acreditava ela que era uma rocha, que chorar seria fraqueza, que se por de frente com os sentimentos e os olhar nos olhos deveria ser evitado. Pobre menina! Há tanto a aprender!

Não que eu seja o poeta, dono das verdades sobre o coração. Eu definitivamente não sou.

Mas ela, ela também não é a mulher que acredita ser. No máximo uma menina, assustada no canto da sala no final da noite, ouvindo os passos da sorte, esperando a hora de ir dormir correndo, assim que ela passar. Mas escute bem, isso não é uma critica! Tem tantas outras coisas em que você é bem melhor que eu. E isso não é uma competição.

Eu tentei te pegar pela mão, caminhar junto falando baixinho sobre os alicerces do amor, sobre outros sentimentos também, mas principalmente sobre o amor. O dar e receber, o cuidar e ser cuidado. Eu tentei te falar também sobre o afago, o acolhimento. Ah, como eu tentei! E esse papo, embora parecesse que era sobre mim, era sobre você! Era sobre cultivar e criar, criar e manter, manter e preservar. Nunca foi sobre mim, porque eu sou o passageiro, mas se nunca aprender a cultivar, criar, manter e preservar, todos serão também passageiros para você!Nunca foi sobre mim!

Eu, meu ex amor! Vou amar novamente assim que o sol se por, vou doar e saber receber. Cultivar, criar, manter e preservar. Com meus passos firmes que nem sempre sabem onde vão, mas que sempre andam amando pelo caminho, armando o caminho, aprendendo com o caminho e dando de mim apenas o que eu tenho. E como eu já te disse certa feita, eu sou a gentileza e a doçura. Só não te contei que o meu sobrenome sempre foi amor.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Só.

Tão voraz quanto as dores que perduram por uma única noite, em crises de febre, sono de fuga, olhos marejados, porém de ressaca. Mas não como os olhos de Capitu.

Escravo de um sentimento retrógrado, fez do fel um companheiro rude, porém velho parceiro da caminhada. Me dê a mão, talvez se cairmos juntos possamos nos salvar!

Vestido dos mais belos pesares e dos mais cruéis amores, era só o canto da sereia, era só devaneio vão, que escapa à mão, aos poucos, deslizando dramaticamente até a queda, que deveria ser fatal mas não foi.

Se soubesse se lembrar de outros invernos, se soubesse se lembrar de outros sabores, esquecer-se-ia do dela e talvez, fim de tarde, com o rosto frio feito vento, vermelho feito fogo, pudesse respirar mais calmo, mais leve e mais seu.

Queria só esquentar o coração, como faz na fogueira com as mãos. Abertas para não prender nada nem ninguém, livre, solitário e com um breve sorriso no rosto. Breve e leve, sincero e verdadeiro.




domingo, 4 de dezembro de 2022

De volta ao pesar

 Eu teria deixado pra lá, teria dormido tranquilamente após tantos tropeços, fazendo tudo do meu jeito. Errado não, do meu jeito.

Mas não, eu preferi falar sobre as constelações, mas entenda, caro leitor, ninguém quer ouvir sobre uma dor que não é deles, sobre sentimentos que não são deles. Cada um tem sua forma de não se importar, julgar, mas criar uma realidade só sua. 

Andei por horas em busca de aceitação e reconhecimento, até não querer mais, não é mais necessário. Eu finalmente não me importo mais.

O interlocutor sempre irá falar de si da maneira que se imagina, contará as coisas por seu ponto de vista. Mas afinal de contas, quem se importa com o interlocutor?

Hoje fez uma noite chuvosa, eu não queria falar de amor, de realização ou de qualquer outro tipo de sentimento ou percepção. Mas na verdade não importava, era só o meu sorriso de lado, a dor no peito de sempre, a saudade daquela que faz dos meus dias mais felizes e a falta do conhecimento de mim sobre mim mesmo, sobre quem eu havia me tornado.

O menino triste, das histórias tristes ainda era o mesmo. Mesmo depois de anos sem escrever, depois de anos sem falar de si ou de seus sentimentos. Mas ele havia mudado suas percepções, tinha passado a se importar menos com o que os outros acham ou podem querer. Se estava errado ou certo, também não era mais uma preocupação.

Era só o mesmo sorriso de lado, o mesmo cabelo despenteado, a mesma sorte, as mesmas palavras ao fim de cada linha. Muita coisa havia mudado, mas ele continuava falando sobre um universo que inventou pra si, já que é o único hábitat em que consegue respirar.

Eu teria amado ser diferente, eu teria. Mas não foi.

sábado, 18 de agosto de 2018

Sobre caixas.

Já fazia algum tempo que não olhava para  dentro. Guardava tudo o que sentia numa pequena caixa de madeira, no canto da sala, trancada a pregos e martelo. Não ousava abrir.
Chorou incansavelmente por noites a fio, exatamente por não querer falar sobre aquilo, deixou com que o vento frio da madrugada - que cortava seu rosto- fosse a sua única dor conhecida.
Sabia que se destrancasse os pesadelos tornaria a ter medo de dormir, perderia aquela paz que inventou, desenterraria tudo aquilo que anulou.
Tinha um sorriso largo, leve e alegre. Passava isso para outras pessoas, meio inconsequente chegava a ser um pouco criança. Era o que tinha sido um dia, era o que não conseguia ser mais.
Por onde andam seus sonhos? Porque te deixastes para depois? Perguntava a ele mesmo, sem resposta. Ele só havia desistido.
Não tinha mais encanto naquilo, ainda era o bom menino contador de histórias, mas junto do sorriso largo tinha os olhos marejados, um peso nos ombros que o fazia andar de lado, com o olhar perdido em alguma coisa, algo que não conseguia saber o que era, já que, certamente guardou naquela caixa, no canto da sala, selada a pregos.
Certa feita falava de sonhos e planos, andava por aí se divertindo com os próprios erros, escrevia sobre amores momentâneos e outras coisas da vida. Não se prendia a obrigações e voava de acordo com o vento. Pois é, hoje eu acordei com saudade de você e a dor era tamanha que não consegui mais dormir!
Hoje eu acordei com muita saudade de você que morava aqui, dentro de mim, tão vivo, tão meu.
Pois é, hoje foi o dia em que finalmente eu senti falta de mim.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Pouco tempo.

Tanta coisa já havia se passado. Já não fazia diferença o final da história.
Não faça de mim um fiel " escrevedor"  daquilo o que ainda sente - se é que ainda és capaz de sentir alguma coisa- tudo se tornou tão banal, visto que, você foi assim como eu, esfriando até não se importar mais com certos acontecimentos cotidianos.
Vai fazendo devagar, sem deixar o coração atribulado, hoje em dia é mérito coração sem atribulação. Hoje em dia é tão bonito, culto, legal, ser morno.
Mas não é assim que se faz, não é, meu bem!
A verdade dos olhos vai se perdendo, a gente vai se ajeitando no cantinho do sofá, fim de dia comum, como se fosse comum.
A gente aprende sobre o desapego, nessa comunidade moderna, descolada, cheia de dizeres baseados em nada. Mas o apego não tem nada a ver com o que pregam também. Nos exageros se descuidam,  não olham pros lados, acabam tropeçando no canto da sala de visitas, bem ali, naquele abajour que complementa a decoração.
Deixa eu te olhar nos olhos? Ainda é terça feira! Amanhã pode ser que eu tenha me cansado de ser o bom menino das histórias banais. Quem sabe amanhã eu acorde o poeta que sempre fui: intenso, carnal, dono de um apego desapegado, ligado a grandes e eternos amores momentâneos - pois é, eu sou assim.
Só me prenda um pouco mais, entre os braços ou entre as coxas. Só seja intensa, por favor! Não me deixe te ver morna! Eu tenho tanto medo de me tornar morno também!
Olhe toda essa gente morna, eu preferia que fossem todos frios, secos, sem reação!
Eu não tenho muito tempo, por isso escrevo um pouco de cada vez, eu sei que não tenho muito tempo. Inclusive para ser morno.
Meus batimentos sempre são tão acelerados, a agenda lotada de prazeres, faça o favor de ser um, ou não gaste meu tempo ( já que eu tenho tão pouco).
Talvez essas linhas não te toquem, talvez nossas histórias nem sejam parecidas. Talvez nossas linhas tenham se cruzado por obra do acaso e só rendam mais uma ou duas canções. Quem sabem nem isso!
Quem sabe só um sexo trôpego no meio do choro cotidiano. Quem sabe nem isso!
Mas quem sabe, nessa noite, por cinco ou seis horas eu posso ser seu grande amor. Só por hoje eu posso ser o amor da vida! Eu posso ser o que você quiser!
Não que seja importante, mas seria bom que por uma noite a gente fingisse não ser tão cheio de nada! E pelo contrário, sermos cheios de tudo. Nem que seja só por tesão!
Só seja gentil ao sair, não precisa trancar a porta, finja que volta pro jantar!
E eu? Eu sigo em frente!
Daquele meu jeito, porque você sabe: Eu tenho medo de me tornar morno e tenho tão pouco tempo!

terça-feira, 4 de julho de 2017

Reaprender.

E quantos amores eternos terão acabado, antes mesmo de eu terminar de escrever este texto?
E quantos não ditos serão eternos? E quantos amores verdadeiros não serão jamais revelados? Quantos passos não dados?
Não adianta culpar as palavras, meu amigo. Se nos longos dizeres de outra noite fria o poeta se cansou, tropeçou nas próprias palavras e foi dormir, assim, meio sem jeito, sem ter o que escrever. Não era falta do que sentir, ele sentia, era só falta de escrever mesmo, a nova falta daquilo que antes era quase que vital, visceral, necessário.
Outra vez entrei desajeitado no quarto, no meio da noite, cambaleante e tropecei no meu próprio coração. Não que não houvesse algum amor nele. É que ele andava engasgado almejando escrever. Eu só não conseguia mais.
Quem sabe fosse a calmaria, as tardes de inverno, a necessidade do cobertor. Mas eu sempre escrevia mais quanto era frio, precisava aquecer o lado de dentro, entende? Mas não! A parte de dentro desta vez não estava fria. Acho que encontrei o meu motivo! Quem sabe até eu mesmo acredite nele.
Andei tendo pesadelos tolos, cidades suspensas, coisas confusas. Talvez eu quisesse acreditar nessas coisas e por isso meu subconsciente me levasse a ter sonhos tão estranhos. Eu era um teórico vago e um vivente desajeitado. Na verdade não me achava bom em nada.
Certa feita acreditei que precisava estar triste ou em algum outro extremo para conseguir escrever, até que percebi que dentro de mim havia um "eu" que  conseguia sentir o que eu quisesse, caso tivesse a pena em mãos. Era como se eu fosse o dono dos meu sentimentos e palavras, atos a e pensamentos. E eu era.
Hoje eu sou só aquele menino, que talvez jamais cresça, mas há uma coisa boa em tudo isso. Eu sou mais verdadeiro, mais humano e passo a me conhecer a cada dia mais. Não que isso não seja doloroso, mas talvez seja necessário, honroso, bonito.
E se nunca mais for inverno do lado de dentro? Eu vou ser outro desses meninos. Maresia e olhos de ressaca, desajeito e passos trôpegos.
E se nunca mais for inverno?
Talvez se nunca mais for inverno eu me acostume a acordar cedo e ver o sol nascer, talvez eu passe a achar bonito, assim como todas essas pessoas acham, quem sabe realmente o menino triste esteja morto. E se for assim, talvez eu tenha que reaprender a escrever coisas bonitas. É, quem sabe eu tenha que reaprender.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Palavras e mais nada.

Não haviam razões para esperar o melhor, mesmo assim ele se levantou, vestiu-se, e se olhou no espelho. Aquele sorriso era só fachada para o que ele tinha por dentro.
Ele estava todo bagunçado naquela tarde de terça-feira, dia banal, traços trêmulos na folha de papel branca. Nada demais.
As noites eram frias enquanto os dias eram infernais, quentes e dolorosos. A dor nas noites frias eram mais suportáveis, ainda mais nos braços dela que acalmava todas todos os devaneios que passavam pela sua cabeça. Sonhos sangrentos, tempestades, pés descalços em plena segunda de madrugada. Nada mais poderia o assustar, ele já estava extremamente assustado.
Não era atoa. Ele era o menino complexo, estudioso das leis e amante dos poemas, mas vivia mais nos poemas que nas leis. Isso explica porque ele era tão sensível e tão pouco prático. Ou talvez isso fosse só seu ascendente em peixes. Depende no que você acredita.
Não havia lugar confortável pra ele, ele parecia sempre estar de partida. Malas prontas na porta, suéter e cachecol, como naqueles filmes onde o protagonista sempre parte e deixa todos partidos. Ele era partida e lágrima, ele mesmo era o caodjuvante e o personagem principal.
Não tinha muito que poderia ensinar, aqueles olhos aparentemente calmos não mostravam a metade das complexidades que ele guardava, na gaveta de canto, ao lado da escrivaninha em L, naquele quarto onde ele se criou, sonhou, chorou e amou.
Mesmo distante ele guardava pra si o que de mais intenso havia, não sabia ser amenidade, não sabia simplesmente deixar pra lá.