terça-feira, 29 de julho de 2025

O despertar.

Parecia ter acordado de um porre, daqueles que a gente mal lembra dos acontecimentos. Tinha o corpo dormente e memória confusa, então se deitou novamente e esperou que a cabeça voltasse ao seu lugar.

Não entendia qual o tipo de encanto tinha o levado tão longe. Pela primeira vez ele não sabia. Mas sentia no estômago a necessidade da distância daqueles acontecimentos. Não faria bem revisitar aquela história, embora fosse tão recente.

Levantou tarde naquela manhã de inverno, sentia nas pernas o cansaço e no coração um vazio, que naquele dia fazia bem. Naquela manhã ele mesmo foi seu maior amor. 

O menino se olhou no espelho e se reconheceu, cuidou da casa, fez o café e o jantar. Se sentou sozinho em frente a TV com uma paz que há tempos não o atingia. Seria ele capaz de viver sem amar? Ele estava bem, não sabia por quanto tempo.

Se conhecia, sabia que em algum momento algum sorriso, algum par de penas ou algum balançar de cabelos iam o fazer brilhar os olhos, sacudir a alma, alimentar os escritos. Mas hoje não.

Hoje o menino caminhou entre seus escritos mais absurdos, mas não se deixou sujar da sangue. Ele sentia cada palavra que um dia disse, mas não chorava nenhuma delas. Ele só carregava no rosto um sorriso tranquilo. Não era desamor, era respiro. Ele estava feliz.

A solidão o acompanhou de mãos dadas e olhou profundamente dentro de seus olhos escuros. Ele não teve medo dela. Ele apenas sorriu.

Malditos os dizeres de alguns poetas que só viram beleza nas tristezas que escreveram. Não é só delas que nascem as intensidades. Ele era a intensidade! Mas também sabia sorrir feliz ao final de cada ciclo, depois que o coração parava de doer.

Naquele dia o poeta sabia que tinha pegado o coração no bolso e colocado no em seu lugar, e naquela noite de inverno ele estava quentinho, abrigado no peito.

Acordou no meio da noite, sem susto. Pegou a caneta e o papel para falar sobre a solitude que chagava de mansinho e cuidava dele, sabendo que talvez ela nem dure. Afinal, ele era o menino poeta, e meninos poetas nasceram para amar.

  

segunda-feira, 21 de julho de 2025

A tempestade.

Uma tempestade invade os meus olhos no fim de um dia banal. Não leve a mal as palavras desse poeta ambíguo. Ele tem nossos olhos as cores de todas as estações.

Perdido nos seus próprios ditos, malditos amigos do medo de amar mais do que pode.

Os batimentos acelerados, o sangue pulsando tão rápido, a ponto de machucar o coração.

Lembrou dos olhos dela, era tudo! Um pouco oblíqua, uma tanta cigana, dissimulada às vezes. Era tudo o que ele queria.

O corpo dela conversava tão bem com o dele. O menino nú, não só das vestes mas de si próprio. Tudo dela.

Deixou para escrever outro e outro poema quando o dia nascer. Mas não se levantou para ver o sol, o sol o lembrava o sorriso dela. Mas nas noites frias também não escreveu.

Em arrepios de medo febril, dormiu no canto da cama, feito criança com medo, guardando o segredo de tentar não amar. Mas ele amou.

Uma tempestade se fez na minha alma, esperando o nascer do sol. Mas eu não acordei para contemplar.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Fale sobre o amor.

Me fale de amor sob as estrelas desse céu nublado, e mesmo que eu entenda tudo errado. Tenha paciência comigo. Eu também quero aprender!

Me deixe contar quantas vezes você me olhou e repentinamente desviou o olhar para que eu não fosse capaz de ver mais do que você queria dizer. Mas me diga, quantos amores fizeram com que você fosse você?

Feche os olhos no meio das frases e sorria, sorria de novo o amor. Já que ele é feito de você!

Me traga nos sonhos mais saudosos, e na imensa vontade de entender o amor eu lhe pergunto. Por que o amor é tão feito de você?

Seria só poesia? Obra banal de um artista vão. Meus textos pelo chão, meus poemas reduzidos a pó. Eu, o menino "escrevedor" de sonhos vagos e amores banais. Por que me amaste mais? Por que?

Todos os dias vestindo cores sóbrias em combinações divertidas, sempre um pouco de sorriso no pesar. Sempre doendo um pouco com um sorriso de canto de lábio. Sempre! Eu caminho por ai.

Não tente me dizer que amor também não é feito de mim ou que eu não sou feito de amor. Às vezes até nos confundimos, parados em alguma esquina esperando o sinal abrir, nos olhamos nos olhos e seguimos. Eu e o amor.

Todos os dias com os olhos fixos no espelho há um sorriso meio lágrima, um canto meu tão seu. O copo pela metade, outra garrafa cheia. Eu me recuso a levantar da mesa até o sol se por. Vai que talvez eu entenda o que você quer dizer, meu amor!

Me fale de amor sob a luz desse dia azul, sem que as nuvens invadam o céu e comece a chover lágrimas, sem que comece a chover lastimas.Me fale mais sobre o amor. 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Mais uma vez.

 E no final da noite, tocou a mesma canção. Eu a sabia de cor, embora sempre me surpreendesse com suas nuances. Eu estava devastado pela vida, e só queria deixá-la. 

Talvez um veneno, talvez um novo amor. Ambos me matariam, cada um a seu jeito.

Eu ouvi a mesma canção, e ela me falava sobre algo que ainda me deixava petrificado. Eram tantas as feridas que cobriam o corpo de sangue, e eu parado, ali, no mesmo lugar não pensava em nada. Apenas sentia a dor de estar ainda vivo.

Cambaleei até a mesa e comecei a escrever outro poema, com o sangue que jorrava de mim. Eu não estava certo de que aquilo era meu último poema, mas rezava para ser.

Eu, com a dor insuportável de estar vivo, as palavras com a dor insuportável de estarem vivas para sempre. Nós nos completávamos.

E comecei a escrever, talvez apavorado pela dor usei de palavras maçantes e muito diretas. Era quase despedida. Eu estava partido e partia a cada instante. 

Eu me despedia dela, enquanto não era ela quem me matava, mas sim a própria vida.

Eu pulsava ainda, por sei lá quanto tempo pulsaria. E sempre que fosse mais forte menos tempo, mais sangue. Mais eu ia embora.

E eu parti.

O poeta partiu mais uma vez. E com o coração em mãos o colocou no bolso, acordou e foi viver mais um dia. Foi morrer um pouco mais.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Poeta

 Acordou pela manhã olhando para frente, sem deixar de relembrar. Eram dele todos aqueles amores, que nunca deixarão de ser amores. Enquanto o seu coração pulsar.

Não seria ele aquele menino sem nenhuma delas. Seus afetos eram parte de tudo o que ele se tornou. Não seria ele sem algumas dessas histórias.

Se pegou de manhã, camiseta velha, calça de moletom. Despenteado, o retrato de todo desajeito.

Ainda bêbado de sono se levantou e deu para ela, aquela que o abrigava, o primeiro sorriso da manhã. Estava leve e pronto para o dia.

Se lembrou do que o encantara. Bustos, coxas e jeito de mulher.

Algumas vezes tão meninas, outras tão sábias das coisas. Ele sabia que cada uma era única. Mas ele era o único entendedor de si mesmo.

Lavou o rosto e entendeu que era pronto para o amor. Que se apaixonaria ainda alguns zilhões de vezes para manter no peito o coração de poeta.

Se lembrou dos olhos que o cruzam no meio do dia banal. Respirou fundo e foi viver o dia.

Tão possíveis os amores do dia a dia, um olhar sagaz na fila do mercado. Um olhar tímido cruzando a rua. Ele era capaz de amar cada uma delas. Nem todas elas eram capazes de suportar as nuances do coração do poeta.

Ao fim do dia escovou os dentes e outra vez olhou no espelho, olhos de cansaço e o mesmo sorriso de quem sabe que o amor é tempestade, o amor é chuva branda. O amor é dia de sol. O amor é o que quiser ser. E era ele, o menino "escrevedor" feito para o amor.

terça-feira, 27 de maio de 2025

O sol.

 O céu se fecha e as estrelas parecem escondidas atrás das nuvens que teimam em preencher essa noite.

O silêncio que às vezes abraça, outras vezes machuca invade a sala e se senta ao teu lado. Eu não sou amigo dele quando isso acontece. Mas entendo.

Sabe o que é, menina? Certa feita me disseram que você tem sorriso de sol, e eu abracei essa verdade. Porque para mim era a definição mais bonita e verdadeira que havia. Tens sorriso de sol.

Sol em céu azul, dia bonito para se sentar em um bar e falar, falar da vida.

Eu caminhei noites e noites buscando esse meu sol. Perambulei feito alma perdida procurando a luz. Então, cuide dele. Me deixe cuidar também.

Quando o mundo se apaga para você, eu busco. Busco sua mão para pegar, conduzir e proteger, afim de que no final da noite escura, nos devolvam o sol.

Haverão noites escuras, e eu, o menino "escrevedor" que agora vos fala, busca incansavelmente por ti, para que te encontrando possa também ele cuidar do nosso sol.

Eu já te falei sobre a dor, o amor e o prazer. Agora te falo de ombros largos sobre proteção.

Esteja e se deixe estar nesses ombros largos, no peito do poeta. Já que é teu o coração dele.

O menino do sorriso maldito se apaixonou pela menina de sorriso de sol, que tem a profundidade de todo um oceano. Pareceria contraditório se não quisesse ele a qualquer preço que ela fosse feliz.

Ele que dentro dela buscou o prazer, hoje dentro da alma dela busca estar, para que assim, encostada em seu peito, ela possa respirar, sonhar e sorrir.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Livre.

Caminhado pela vida o menino passou a ler seus escritos, tristes retalhos de papel amassados nos bolsos. Sorriu o velho sorriso maldito e abriu o peito esperando que o sangue jorrasse em cima daqueles pedaços de papel.

Com os olhos marejados e aquele sorriso de moleque, parecia louco. Sagaz experimentou o mais puro fel, se deleitou no mel e foi do céu ao inferno. Ele sabia que seus passos curtos às vezes apressados o levavam a algum lugar. Ele não fazia questão de saber onde.

Deixou para lá o nó na garganta, e agora falava desaforadamente de tudo o que sentia. Um pouco perverso às vezes, não queria mais guardar no peito o frio, o vazio e a solidão! Ele vomitava tudo o que sentia, com o dedo na garganta e nenhuma culpa. O que seria do menino sem seus ditos? Ele voltou a habitar o corpo daquela que o hospedava sem pudor. Eram dele os sentimentos dela. Ele estava disposto que voltassem a ser apenas um embora ela às vezes o reprimisse. Ele queria ensinar a ela o quanto seria doce voltar a amá-lo.

De manhã se olharam no espelho, sorriram um para o outro e ela o abrigou, por dias consecutivos. O menino talvez esteja lhe caindo bem. Não é, menina?

Caminharam por aí, não guardaram nenhum sentimento que os atingia! Ela após decidir que seria bom deixá-lo viver um pouco sorriu um sorriso sincero ao final do dia. Ele ainda doía, ela já não ligava tanto assim, pelo menos por mais hoje.

Era tão fugaz a presença dele. Ele escrevia linhas fora das páginas, nas palavras dela. Palavras jogadas ao vento. Ele sentia um prazer inesgotável por não ser, pelo menos naquele momento somente quem abrigava o papel. O peito parecia explodir, eles estavam em puro êxtase. Quanto tempo duraria ninguém sabia, mas naquele instante eles estavam felizes.

Ele vinha se sentindo abrigado pela liberdade que ela resolveu dar a ele! Fazia tanto tempo.

Quase que explodindo, no final da noite se abraçaram e prometeram acordar juntos. Pelo menos por mais amanhã.

Caminhando pela vida. 

E o que tiver que ser, será!